12 | I Série - Número: 033 | 23 de Dezembro de 2010
Pensei que o PCP aplaudiria esse cenário dantesco, o que seria, em certa medida, a confirmação de que este sistema é corrupto e irreformável. Mas, não. O PCP, nisto, trai Marx e transforma o seu posicionamento político numa espécie de denúncia moralista.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Essa é a parvoíce das 10 horas e 30 minutos!
O Sr. João Galamba (PS): — Portanto, o autor de A Ideologia Alemã — livro que, certamente, conhece — deve estar a dar voltas no túmulo ao ver um herdeiro do edifício teórico que construiu transformar-se num partido de denõncia,… Protestos do Deputado do PCP Miguel Tiago.
… que, como bem sabe, coloca o PCP no campo do idealismo e não do materialismo. Portanto, o PCP, nesta sua nova versão marxista-pós-moderna assume a denõncia,… Protestos do Deputado do PCP Miguel Tiago.
… com grande veemência, porque perdeu, de facto, o horizonte revolucionário, restando-lhe, apenas e só, olhar para o PS, que é uma espécie de encarnação do mal, como uma espécie de partido dotado de uma vontade maléfica que pune os trabalhadores. E isso, Sr. Deputado, é uma profunda traição a Marx, o que, confesso, não estava à espera da parte do PCP.
Vozes do PS: — Muito bem!
Protestos do PCP.
O Sr. João Galamba (PS): — Voltando a Marx, o Sr. Deputado António Filipe sabe que os homens fazem a história, mas que não a fazem no contexto que eles próprios escolheram. E é isso que o Sr. Deputado não é capaz de reconhecer no Partido Socialista, nem de reconhecer o momento que hoje vivemos. O Sr. Deputado fala das medidas do PS como se elas fossem gratuitas e emanassem de uma vontade diabólica do Partido Socialista, esquecendo o contexto em que estamos situados.
O Sr. Deputado não pode esquecer que vivemos a maior crise desde os anos 30. A posição do PCP não é a da defesa dos trabalhadores,… O Sr. Bernardino Soares (PCP): — A do PS é que é?!
O Sr. João Galamba (PS): — … não ç a da defesa do Estado social, é, sim, uma posição objectivamente aliada da direita, porque representa a esquerda de que a direita gosta, ou seja, a esquerda que é incapaz de reformar, que é incapaz de estar à altura das circunstâncias… O Sr. Francisco de Assis (PS): — Muito bem!
O Sr. João Galamba (PS): — … e que ç incapaz de assegurar as condições de possibilidade dos direitos do Estado social que tanto defende.
Protestos do PCP.
Portanto, Sr. Deputado António Filipe, não é com discursos desses, certamente, que os senhores defendem o Estado social e que garantem aquelas condições que dizem querer defender.
É difícil tomar certas medidas? É, certamente! A política é feita destas escolhas, mas pode ter a certeza que, da parte do Partido Socialista, estaremos sempre aqui a fazer as escolhas necessárias para garantir o Estado social que ambos valorizamos mas que só nós só sabemos defender.