16 | I Série - Número: 038 | 14 de Janeiro de 2011
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Pureza.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A economia portuguesa ficou marcada, esta semana, por dois acontecimentos importantes — o primeiro foi a emissão de dívida pública de ontem e o segundo foram as previsões, feitas pelo Banco de Portugal, de que a economia nacional perderá mais de 1% do produto e estará numa profunda recessão no corrente ano.
Ora, só aparentemente estes indicadores são divergentes. A previsão do Banco de Portugal não deixa margem para dúvidas. Como consequência natural da política recessiva seguida pelo Governo, com o prestimoso apoio do PSD, o País vai entrar novamente em recessão já neste ano — nem podia ser de outra forma, depois do brutal aumento de impostos, da diminuição dos salários, da crescente dificuldade no acesso ao crédito e do aumento do desemprego. Mesmo os portugueses com emprego vão, com a subida de impostos e diminuição salarial, ver os seus rendimentos diminuir quase 3%.
Resultado: o consumo privado vai ficar no nível mais baixo de sempre, e o pior efeito da recessão é que, só este ano, são mais 50 000 pessoas que vão ficar sem trabalho. Portugal está a um passo dos 700 000 desempregados! Perante este cenário económico e social que se avizinha para Portugal, é extremamente preocupante que a nossa economia continue a ser alvo de um forte ataque especulativo. Um sintoma disso é que, face aos condicionalismos de uma economia à beira da recessão e de um mercado internacional incendiado pelas notícias cirurgicamente lançadas por Merkel e Sarkozy, os insaciáveis prosélitos do FMI, como rolo compressor da democracia económica e social em Portugal, andem cabisbaixos.
O FMI é o expediente da direita portuguesa para poder aplicar o seu programa radical e extremista, disfarçando-se atrás desta sigla: diminuição do valor do salário à custa da recessão, transferência para os privados dos mais importantes serviços públicos. Eis o programa que a direita quer radicalmente e de forma extremista aplicar a coberto da vinda do FMI.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Cavaco Silva, que passou as últimas semanas a advogar o silêncio cúmplice dos responsáveis políticos diante dos movimentos dos especuladores internacionais que visam a destruição económica de Portugal e de todos os países da periferia da Europa, decidiu quebrar, ele próprio, esse «verniz» de silêncio, mostrando ontem com clareza o seu irreprimível anseio pela vinda dos disciplinadores implacáveis.
Ao agitar o espectro de uma grave crise política, quando toda a imprensa internacional estava a seguir a economia nacional e a sua capacidade de se financiar nos mercados, o candidato presidencial apoiado pelo PSD e pelo CDS, não quis menos do que «incendiar a pradaria». Para Cavaco Silva a mensagem é clara: devemos estar todos caladinhos sobre os juros da dívida, mas só quando essas declarações prejudiquem a especulação que se abate sobre a economia nacional.
Para quem insistentemente se reclama de uma posição acima dos partidos, a perfeita sintonia desta estratégia com o discurso aguerrido da «claque do FMI» não será, certamente, mero acaso do destino.
Quando a economia real a contraria, a «claque do FMI», entre gritos de guerra dos economistas de serviço e palavras de ordem matraqueadas pelos fazedores de opinião, recorre à «política da terra queimada», pretendendo abrir caminho à intervenção externa em Portugal que põe em causa a possibilidade de os portugueses decidirem sobre o seu destino.
Ao agitar o espectro de uma crise, Cavaco Silva ignora sobranceiramente que já vivemos uma crise, e muito grave: um quinto da população é pobre e as pensões estão congeladas; um trabalhador em cada dois está desempregado ou é precário.