I SÉRIE — NÚMERO 122
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Este é o ponto de partida indispensável para um licenciamento transparente, que não obrigue a alterações
discricionárias de PDM, com custos políticos para governantes e agentes da Administração Pública.
O segundo princípio é o de adotar o princípio da responsabilidade do investidor como regra geral, ou seja,
o investidor compromete-se a cumprir as regras que estejam estabelecidas, será inspecionado e, se não as
cumprir, será punido e o seu investimento suspenso.
É o sistema anglo-saxónico, que tem funcionado bem, mas que, aplicado a Portugal, vai exigir uma
reorientação da prática dos serviços.
Daí que o novo Sistema da Indústria Responsável (SIR) merece, em princípio, o nosso acordo. E, se for
integrado por boa legislação e regulamentação, pode ser efetivamente a primeira reforma estrutural levada a
efeito no capítulo do investimento.
Aguardemos, pois, com expectativa, as propostas dos instrumentos necessários a pôr de pé o novo
sistema, com destaque para três leis: a lei dos solos, a lei do ordenamento do território e a lei do licenciamento
de operações urbanísticas e de edificação.
É necessário ter a consciência de que estes instrumentos mexem com poderosos interesses instalados a
vários níveis, a exigir diálogo, firmeza e consenso — e consenso alargado não apenas às forças políticas mas
também às forças sociais e às forças empresariais dos diversos setores.
Uma última reflexão quanto a prazos para a implementação do novo regime. Tendo em conta o trabalho já
feito que configura o atual regime, a criação das zonas empresariais responsáveis (ZER) e o reforço do Balcão
do empreendedor podem ser de aplicação quase imediata, não nos parecendo excessivo apontar para outubro
deste ano a sua entrada em vigor.
Quanto à restante legislação, tecnicamente muito complexa e politicamente muito melindrosa, parece-nos
que o 2.º trimestre de 2013 é adequado à sua integral aplicação.
Sr.ª Presidente e Srs. Deputados: O Partido Socialista, consciente da importância para a economia
nacional dos temas hoje em debate, estará disponível para dar a sua colaboração por forma a que a legislação
que venha a ser publicada mereça o mais amplo e preparado consenso.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins, do Bloco de
Esquerda.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Tive o cuidado de colocar duas
questões muito simples depois da intervenção inicial do PSD, que marcou o debate de hoje sobre o
licenciamento de indústria responsável. A uma delas, sobre se esta seria ou não a repetição dos PIN — um
processo obscuro e nada transparente, que permitiu construir resorts em dunas secundárias e pôr em risco os
golfinhos do Sado, enfim, um processo que permitiu tudo e mais alguma coisa a grandes interesses
económicos instalados e com nenhuma transparência, sem que nunca se percebesse como as decisões eram
tomadas —, a vossa resposta foi zero.
Portanto, o que podemos concluir é que, sim, querem generalizar ao licenciamento industrial aquela que é
uma prática completamente irresponsável. Podem chamar-lhe «licenciamento de indústria responsável» e
chamar «responsável» quantas vezes quiserem, mas o Governo, o Estado, no momento em que se demite de
avaliar aquilo que é o impacto da indústria na água, no solo, no ar, no ambiente, na saúde pública e nas
condições laborais, está a ser irresponsável.
O que os senhores estão a dizer é que a indústria começa a trabalhar e, depois, logo se vê. Solos
contaminados com resíduos industriais? Vê-se, depois. Águas contaminadas, lamas tóxicas? Vê-se, depois.
Protestos do Deputado do PSD Luís Menezes.
Vê-se, depois?! Depois, do quê? Depois, do quê?! Quando o solo já estiver contaminado! Depois, do quê?!
Quando as águas já estiverem contaminadas! Depois, do quê?! Quando já puseram a saúde pública em risco!