6 DE OUTUBRO DE 2012
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O Sr. Guilherme Silva (PSD): — O Bloco de Esquerda nem sequer disfarça que os seus objetivos são tão-
só os do bota-abaixo. Como não podia deixar de ser, o Bloco de Esquerda associa a sua iniciativa às
manifestações populares, de que não é legítimo apropriar-se, e, por isso, não se preocupa em propor qualquer
alternativa de Governo.
Com total demagogia conclui que «perante a crise de um governo sem credibilidade, a República assume
toda a responsabilidade.» É o caminho do quanto pior, melhor,…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Esse é o do Governo!
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — … próprio de quem não tem alternativas para o País, e muito menos para
uma governação particularmente difícil e exigente como a que resulta da grave conjuntura nacional, europeia e
mundial que estamos a atravessar.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Será que os subscritores das moções de censura em debate refletiram
minimamente sobre o que propõem e veiculam? Atentaram no enquadramento específico em que o País se
encontra, no contexto da ajuda externa a que recorreu e na premente necessidade de financiamento para o
cumprimento das mais elementares obrigações do Estado?
Refletiram na circunstância de que se a simples dúvida ou desconfiança sobre se somos capazes de solver
os nossos compromissos, por virtude da mais pequena perturbação, faz disparar os juros da dívida, o que não
aconteceria, então, com a adoção da posição «do não pagamos!», que irresponsavelmente propõem?
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Parece que é a Madeira está a fazer isso!
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Ponderaram na situação da Europa, e em especial da Espanha, o nosso
primeiro parceiro comercial, e nas redobradas preocupações e cautelas que tal nos obriga a ter no
cumprimento do Memorando a que nos vinculámos?
Não tenho dúvidas de que devemos ser mais reivindicativos em relação à União Europeia no sentido de ver
reforçado o seu governo económico, sem supremacia de qualquer Estado sobre os demais, com crescente
intervenção das instituições comunitárias, maior flexibilidade e mais solidariedade no combate ao desemprego
e no estímulo ao crescimento económico. Enganam-se, porém, os que admitem podermos ter voz ativa na
União Europeia se nos apresentarmos numa situação de incumprimento dos compromissos que assumimos e
de que depende o nosso financiamento externo.
Como refere, com conhecimento de causa, a Dr.ª Maria João Rodrigues, «Portugal tem sido tão construtivo
que se pode fazer ouvir na Europa».
Tiveram presente o PCP e o Bloco de Esquerda que o cumprimento dos compromissos assumidos no
Memorando e as medidas de rigor financeiro são indispensáveis para que Portugal possa contar com a
tranche de 4300 milhões de euros, sem o que o Estado não poderá garantir, proximamente, os salários dos
funcionários e as pensões dos reformados? Assumem esses partidos, com frequência, o discurso da defesa
dos trabalhadores, mas mostram-se indiferentes ao risco de estes serem privados dos seus salários e
pensões.
A síntese das moções de censura em debate resume-se à proposta de cessação de pagamento e de
renegociação da dívida, o que implicaria necessariamente a saída de Portugal do euro, com todas as suas
graves consequências. Sobre isso vale a pena citar Luciano Amaral, no estudo Economia Portuguesa, As
Últimas Décadas, quando refere como hipóteses teóricas «(…) o abandono da UEM ou, em alternativa (ou em
conjunto), a declaração de incapacidade de pagamento da dívida externa.» E refere: «Em ambos os casos,
abrir-se-ia diante do País um horizonte de latino-americanização, levando à destruição da sua reputação
internacional, com consequências dramáticas que não requerem grande elaboração».
Voltaríamos, agora, pela mão da esquerda, ao «orgulhosamente sós», de tão má memória.