I SÉRIE — NÚMERO 8
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Relativamente à Sr.ª Deputada Catarina Martins, quero dizer-lhe que a sua inevitável referência à Madeira,
que é uma coisa que gosto sempre de registar, tem dois significados que não são novos no seu partido.
Primeiro, significa que V. Ex.ª não está tão à vontade nesta moção de censura que não tivesse de recorrer
à Madeira como bordão!
O Sr. António Filipe (PCP): — Já que V. Ex.ª não o fez!
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — Em segundo lugar, mais uma vez, quando tenta trazer para a Assembleia
da República a questão da Madeira, esquece a autonomia regional e o parlamento regional.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Guilherme Silva (PSD): — O que também é próprio do seu partido.
Só queria agradecer ao Sr. Deputado Paulo Sá a referência que fez ao Sr. Ministro Miguel Macedo e a
pertinente citação que aqui fez dele. Como ele não pode intervir, agradeço em nome dele!
Aplausos do PSD.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Aplica-se que nem uma luva ao PSD!
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do Sr. Deputado Francisco de Assis.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Francisco de Assis (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e
Srs. Deputados: O Sr. Primeiro-Ministro vai hoje conseguir resistir às duas moções de censura que, dentro de
alguns minutos, aqui serão votadas. Esse não é, verdadeiramente, o seu problema. O seu drama, Sr. Primeiro-
Ministro, é outro: o senhor corre sérios riscos de não resistir a si próprio, nem aos desvarios do seu Governo.
Esse é que é, verdadeiramente, o seu drama!
Aplausos do PS.
No País instalou-se a ideia de que o Governo falhou, não é capaz de enfrentar as enormes dificuldades que
se nos deparam, não está, verdadeiramente, à altura da situação.
Grande parte do País acha mesmo que estamos hoje confrontados com uma situação de impasse na vida
política portuguesa, e não tinha de ter sido necessariamente assim, Sr. Primeiro-Ministro.
O senhor e a sua maioria dispuseram de condições políticas excecionais: uma maioria parlamentar que, até
há pouco tempo, parecia ser estável e compacta; um País consciente da gravidade dos seus problemas e
disponível para fazer os sacrifícios necessários, desde que de forma justa e equitativa, para superar esses
mesmos problemas; contavam com a solidariedade institucional do Sr. Presidente da República; e mesmo o
cenário político europeu, no último ano, sofreu alterações que estão longe de ser negativas e contrárias ao
interesse de Portugal.
O senhor e o seu Governo delapidaram tudo isso. E delapidaram por três razões fundamentais e que, de
uma forma muito simples, aqui enuncio: incompetência política, sectarismo doutrinário e arrogância
tecnocrática. Essa é a marca deste Governo.
Aplausos do PS.
Estão, aliás, todas elas claramente associadas.
O senhor cometeu vários erros. Em primeiro lugar, o erro de se voltar, muitas vezes, mais para o passado
do que propriamente para o futuro. Sr. Primeiro-Ministro, um Governo e uma maioria que vivem tão obcecados
em contestar o passado estão a fazer uma grande confissão de impotência em relação à sua capacidade de
alterar o futuro — e esse foi um dos primeiros graves erros deste Governo.