6 DE OUTUBRO DE 2012
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Quando o Ministro dos Negócios Estrangeiros manifesta tantas reservas e divergências em relação a uma
medida, que não era uma medida lateral — e que não foi um acidente, pois estou convencido de que era
mesmo a essência do pensamento político do Primeiro-Ministro e do seu Governo —, isso é um claro sinal de
isolamento, de instabilidade e de censura.
Por isso, neste momento, o País olha para nós e pergunta: porque é que o Partido Socialista não contribui
com os seus votos para estas moções de censura? Por uma razão muito simples e que tem de ser claramente
afirmada.
Os partidos têm todo o direito de apresentar as suas moções de censura. No atual contexto parlamentar, já
todos sabíamos, de antemão, que nenhuma moção de censura, fosse apresentada por quem fosse,
conseguiria ter o apoio de uma maioria de Deputados para poder ser aprovada. Portanto, essas moções de
censura têm uma dimensão simbólica — e como tal é que têm de ser apreciadas. E, embora as duas moções
sejam diferentes — e essas diferenças não passaram despercebidas —, há alguma diferença entre o texto da
moção do PCP (partido que, a acreditar no que vem nos jornais, ainda recentemente se reconheceu, de novo,
nas grandes conquistas civilizacionais dos países de Leste, dos ultrapassados regimes de Leste) e a moção
do Bloco de Esquerda.
Mas a verdade é que estes dois partidos tinham e têm um objetivo claro (sem pôr em causa, naturalmente,
o caráter genuíno da sua contestação ao Governo, que é absolutamente indiscutível e não seria sério deixar
de o reconhecer), que é errado: é estabelecer uma demarcação entre a extrema-esquerda e a esquerda
parlamentar,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E o que é a extrema-esquerda?!
O Sr. Francisco de Assis (PS): — … em obediência à ideia de que verdadeiramente a oposição começa
ali e há um grande poder constituído por partidos que pensam de maneira idêntica.
Ora, isso não é verdade. Foi porque cometeu esse erro que, muitas vezes, historicamente, a extrema-
esquerda foi inútil à esquerda e muito útil à direita. Foi porque cometeu esse erro, muitas vezes, aqui e noutros
sítios, que a extrema-esquerda teve esse papel.
Aplausos do PS.
O que os senhores aqui vêm fazer é repetir esse mesmo erro: é a ideia de que há uma espécie de grande
magma neoliberal que começa justamente onde acabam as bancadas do Bloco de Esquerda e do Partido
Comunista Português.
O Sr. António Filipe (PCP): — É patético!
O Sr. Francisco de Assis (PS): — Mas acho que um ano de governação da direita já demonstrou
claramente o que é o neoliberalismo e a diferença de um Governo da direita em relação a um governo do
Partido Socialista, na abordagem dos principais problemas do País.
Aplausos do PS.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — As diferenças estão à vista de todos!
O Sr. Francisco de Assis (PS): — Por isso, optamos, uma vez mais, responsavelmente, pela abstenção. E
na abstenção há uma dupla recusa: a recusa de um caminho que está a conduzir a um desastre, mas também
a recusa de um caminho que não saberíamos verdadeiramente onde nos conduziria — o que é que estes
partidos pensam do euro? O que é que estes partidos pensam da Europa? O que é que estes partidos pensam
do que devem ser as grandes reformas que temos de fazer no contexto europeu para aumentar a
competitividade económica europeia, para defendermos o Estado social europeu?
Por isso, ao abstermo-nos, temos uma dupla rejeição. Mas esta abstenção também é a afirmação de um
caminho, Sr.as
e Srs. Deputados.