6 DE OUTUBRO DE 2012
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Aplausos do PS.
Em segundo lugar, cometeu outro erro grave, que foi o de associar a necessária aplicação e a adoção de
medidas com consequências restritivas que constavam do Memorando acordado com a troica a uma agenda
política doutrinária ultraliberal que pôs em causa alguns equilíbrios económicos e sociais fundamentais no
nosso País. Esse foi um erro grave, de apreciação da situação política e de apreciação do contexto social.
Aplausos do PS.
E com isto, Sr. Primeiro-Ministro, o senhor desperdiçou a possibilidade de, a partir do centro-direita (e
naturalmente com as nossas reservas, a nossa oposição e o nosso sentido crítico), promover algumas
reformas, de forma séria e sistemática, e com eficiência, no País.
Hoje, olhamos para trás e, ao longo deste ano, o que é que vemos? Uma política que obedece, em
absoluto, a uma agenda ideológica, uma vontade de cortar sem ter qualquer perspetiva crítica, uma
incapacidade total de fazer mudanças profundas na sociedade portuguesa.
Há casos caricatos e que, de certa maneira, revelam bem a forma como este Governo se relaciona com o
País e com alguns setores fundamentais do País. Lembremos apenas dois: a forma como trataram a questão
da extinção das juntas de freguesia…
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Os senhores têm medo de assumir!
O Sr. Francisco de Assis (PS): — … e a forma como recentemente se pronunciaram em relação à
questão das fundações, que é a demonstração mais inequívoca de impreparação, de inépcia, na condução de
uma reforma importante para o País.
Aplausos do PS.
Cometeu um outro erro, Sr. Primeiro-Ministro: não foi capaz de ter uma estratégia para a Europa e na
Europa. Este Governo, aliás, salienta-se muito por isso: pensa pouco Europa e age mal nas questões
europeias. Os senhores não foram capazes de perceber a importância de algumas mudanças que foram
ocorrendo desde a eleição do Presidente Hollande, em França, até à ascensão de Mario Monti à liderança do
Governo italiano.
Aplausos do PS.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Isso significava que havia outras perspetivas. Há mais Europa…
Protestos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, peço-lhes que façam silêncio.
O Sr. Francisco de Assis (PS): — Os Srs. Deputados da ala mais à direita talvez preferissem que me
referisse à Sr.ª Merkel, mas estou a falar do Sr. Monti e do Sr. Hollande.
Como dizia, há mais Europa para além do seguidismo acrítico em relação às posições alemãs. E o senhor
também desperdiçou essas oportunidades. Não foram capazes de estabelecer um pensamento para a Europa
e, por isso mesmo, não fizeram as alianças e não estabeleceram os caminhos que eram importantes para
podermos ter outra política, hoje, em Portugal, Sr. Primeiro-Ministro.
E por isso chegámos onde chegámos. Chegámos a uma situação gravíssima, sob todos os pontos de vista,
em Portugal. E o Governo é, de resto, a expressão dessas insuficiências e dessa mesma confusão.