I SÉRIE — NÚMERO 20
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Parece-me, portanto, que chegar a um bom acordo em tempo útil é crucial não só para a efetividade das
políticas comunitárias dos próximos anos mas também porque isso daria um enorme sinal de credibilidade
para toda a política europeia, com consequências muito positivas para a confiança dos cidadãos e dos
agentes económicos.
Porém, estamos igualmente conscientes de que a proposta que começaremos a debater amanhã não é
equilibrada e, mais do que isso, contém elementos que são inaceitáveis. E não escondemos que a proposta da
Comissão Europeia, trabalhada em diálogo com o Parlamento Europeu, servia bem melhor os interesses da
coesão e do crescimento europeu. Precisamos todos de estar bem cientes das dificuldades que nos
aguardam.
A proposta que será discutida avança com uma diminuição global de cerca 80 000 milhões de euros
relativamente à proposta inicial da Comissão Europeia. De resto, esse corte incide essencialmente na Coesão
e na Agricultura, as únicas políticas cujos fluxos financeiros a Comissão já tinha reduzido na sua proposta.
Falando em particular da Coesão, a proposta que sobe ao Conselho Europeu pela mão do seu Presidente
altera os parâmetros mais determinantes para a afetação financeira a Portugal. Por exemplo, a consideração
da «prosperidade nacional» é reduzida, assim como também é reduzida a dotação do Fundo de Coesão.
Ora, nós sempre defendemos que é muito mais árdua a tarefa de convergência de uma região pobre num
país menos desenvolvido do que numa região menos favorecida situada num Estado-membro rico.
O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — O contexto nacional importa e não pode ser desvalorizado no Quadro
Financeiro Plurianual.
Mas além das reduções nos montantes preocupa-nos igualmente o agravamento proposto quanto às
condições de utilização dos envelopes financeiros, que vai desde a redução muito significativa das taxas de
cofinanciamento dos Fundos Estruturais, de Coesão, de Desenvolvimento Rural, Pescas e Mar, até à
diminuição substancial dos montantes que, a título de pré-financiamento, são adiantados aos Estados no início
da programação e que são essenciais para o arranque dos projetos.
Sr.as
e Srs. Deputados, sabemos o que queremos e também sabemos o que não queremos e o que não
podemos aceitar.
Da nossa parte, deixaremos muito claro que a unidade da Europa é inseparável do constante investimento
na coesão territorial, do apoio à solidariedade e do combate à pobreza e à exclusão social.
Sem coesão a convergência fica muito mais distante e difícil e sem convergência o mercado interno ficará
sempre aquém do seu potencial como motor do crescimento e do emprego na Europa.
Deixaremos muito claro que os próximos sete anos devem contar com orçamentos comunitários que
apostem devidamente no crescimento apoiado na inovação e na investigação, na educação e na formação
avançada em todos os Estados-membros sem exceção.
Deixaremos muito claro que precisamos de um orçamento europeu que reforce a competitividade dos
países que estão precisamente a fazer um grande esforço para recuperá-la.
Deixaremos muito claro que a crise europeia de desemprego exige uma resposta articulada de políticas
ativas e inteligentes de emprego e de formação profissional, sobretudo dirigidas para a população jovem e
para os desempregados de longa duração.
Deixaremos muito claro que as regiões ultraperiféricas têm desafios estruturais permanentes, facto este
que é, inclusivamente, reconhecido no Tratado de Funcionamento da União Europeia.
E com firmeza avançaremos que as regiões ultraperiféricas têm de ser apoiadas no seu esforço de
convergência e de desenvolvimento de um modo coerente com a excecionalidade da sua condição.
O Quadro Financeiro Plurianual não pode voltar as costas a este imperativo com reduções excessivas dos
envelopes financeiros que afetariam os Açores e a Madeira em múltiplos níveis da sua vida económica e
social.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Muito bem!