I SÉRIE — NÚMERO 26
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Sr.as
e Srs. Deputados, assim é na RTP, assim é no cinema. O cinema português existe hoje única e
exclusivamente graças à boa vontade dos próprios realizadores, técnicos, produtores e atores.
Hoje mesmo, realizadores, produtores, técnicos e artistas de todos os quadrantes políticos, de todas as
gerações, de João Salaviza a Manoel de Oliveira, publicaram uma carta de censura clara à intrujice do
Governo.
Reconhecia o Governo, há um ano, que o esquema de financiamento do Instituto do Cinema e do
Audiovisual (ICA) não funcionava, mas não se comprometia a tratar do assunto. O setor mobilizou-se e exigiu
uma resposta. Acossado, o Governo decidiu então apresentar uma nova lei para o cinema, uma lei para ser
aplicada ainda em 2012.
Apresentou uma proposta de lei frágil, pouco atualizada, com claríssimos problemas de aplicação prática,
com um esquema de financiamento que não inspirava confiança e, apesar de todos os alertas da oposição,
avançou chantageando com a urgência de uma resposta. Resposta que não veio. Mais uma fraude.
Diz o Governo, para justificar o seu alheamento e desinteresse, que o cinema português é de grande
qualidade e não precisa do Estado para nada. Ao menos digam a verdade: simplesmente não têm nenhuma
política para o setor, não querem gastar um único cêntimo com a cultura.
Foram necessários muitos anos para o cinema português chegar onde chegou, acumulando prémios
internacionais e de excelência reconhecida e foi necessário apenas um ano e meio para este Governo colocar
todo o seu futuro em risco.
A Assembleia da República não pode assistir em silêncio à asfixia da cultura em Portugal.
O recém-empossado Secretário de Estado da Cultura tinha dois assuntos urgentes para tratar: resolver o
investimento através da Direção-Geral das Artes (DGArtes) e concluir o processo de regulamentação da lei do
cinema, já aprovada. Quanto aos concursos no âmbito da DGArtes, atrasou o processo ainda mais um mês
por vaidade política e aproveitou para aplicar novos cortes; quanto à lei do cinema, falhou também
redondamente.
Nestas condições, interessa saber para que é que o Sr. Primeiro-Ministro nomeou um novo Secretário de
Estado. Um Secretário de Estado para funções esvaziadas de sentido não é mais do que um biombo de sala.
O que o Governo fez para a política cultural, e muito especificamente para o cinema, foi uma antecipação
da refundação do Estado, aplicando à socapa, e sem qualquer debate público, o colapso de todas as funções
essenciais dos serviços públicos. Para quem tem dúvidas sobre o que é o Estado mínimo a que a maioria quer
condenar o País, aqui está ele: cortes de 100%.
O último que apague a luz! É esta a posição do Governo para a cultura e, de resto, para tudo o que mexe
no País.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Francisca Almeida,
do PSD, Bruno Dias, do PCP, Michael Seufert, do CDS-PP, e Manuel Seabra, do PS.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Francisca Almeida.
A Sr.ª Francisca Almeida (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, percebemos que
tentou, à última hora, misturar com o cinema as últimas parangonas dos jornais relativas a um alegado
saneamento na RTP, porventura para dar eco a uma acusação feita na 12.ª Comissão, hoje de manhã, de
forma leviana.
Como sabe, o Grupo Parlamentar do PSD não só participou ativamente nessas audições como as
requereu. Perguntámos de forma absolutamente clara, quer ao Presidente da RTP quer ao jornalista Nuno
Santos, se houve por parte de alguém, dentro ou fora da RTP, da administração ou do Governo, alguma
manifestação de intenção, de vontade, no sentido de afastar algum jornalista ou de condicionar o que quer que
seja dentro da RTP. Do lado do Presidente do Conselho de Administração, foi-nos dito categoricamente que
não. Ao jornalista Nuno Santos perguntámos por factos, factos concretos que legitimem e fundamentem as
acusações que aqui fez. Nenhum facto foi apresentado, como, de resto, foi reconhecido pelo próprio.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Muito bem!