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6 DE DEZEMBRO DE 2012

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São estas reflexões que lhe deixo, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, pedindo-lhe o seu comentário sobre as

causas do insucesso de sucessivas conferências da ONU sobre alterações climáticas.

Aplausos do PCP.

A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, dirijo-me, em primeiro lugar, ao Sr. Deputado

António Leitão Amaro, agradecendo as considerações que fez e as questões que colocou, mas dizendo-lhe o

seguinte: de facto, existem estudos concretos que incidem sobre as consequências diretas das alterações

climáticas em Portugal, e o futuro não é risonho para nós. É que somos um País muito ligado ao mar (e o

aumento dos níveis do mar tem sobre nós reflexos intensos, ainda por cima um País que tem mais de dois

terços da sua população e da sua atividade concentrada no litoral, pelo que isto tem consequências diretas),

um País que sofrerá cada vez mais de fenómenos climáticos extremos e, por outro lado, também com riscos

de desertificação extraordinariamente elevados, designadamente no sul e no interior do País, o que é algo que

tem reflexos económicos, sociais e ambientais gravíssimos, que têm de nos alertar de uma forma ou de outra.

Sr. Deputado, Portugal não estava exatamente em terceiro lugar, mas em sexto lugar. É que o Sr.

Deputado diz que, se os três primeiros lugares não foram atribuídos, na prática, Portugal é terceiro, pelo que

estamos muitíssimo bem. Mas o Sr. Deputado, depois, não foi capaz de esconder a razão pela qual estamos

com estes níveis: é por causa da crise. E à sua pergunta sobre se Portugal deve ou não ser exemplo para o

mundo, nesta matéria, respondo que não. E não porquê? Porque estes níveis decorrem da desindustrialização

deste País, da falta de atividade produtiva deste País…

O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Nem a Quercus diz isso!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … e de muitos outros fenómenos, Sr. Deputado, que estão

associados à crise e não a um comportamento direto do Governo, através da aplicação de medidas internas,

que gerem, de facto, aquela eficiência de que necessitávamos. Aliás, não foi por acaso que o Sr. Deputado

não fez qualquer referência à questão dos transportes públicos. Não podia! É o setor onde as emissões de

gases com efeito de estufa, designadamente o dióxido de carbono, mais galopa. Mas os Governos não

incentivam as pessoas à utilização do transporte público. O Sr. Deputado diz: «Mas pessoas não andam de

transporte público». E porquê, Sr. Deputado? Porque estão desempregadas, em casa, Sr. Deputado. Não

andam de transportes públicos porque não podem, Sr. Deputado!

O Sr. Bruno Dias (PCP): — É verdade, é!

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Portanto, não há uma política direcionada para o combate às

alterações climáticas, designadamente também no setor dos transportes.

Por exemplo, quanto à eficiência e poupança energética, o Plano Nacional de Barragens (e não vou agora

pronunciar-me sobre o seu conteúdo) foi construído no pressuposto de que o consumo energético ia galopar,

em Portugal — é que este é o nosso pressuposto de desenvolvimento.

Nós temos tanto desperdício! No transporte de energia, nos serviços… Em tudo! Nós não combatemos a

ineficiência energética. E é algo que temos de fazer, para que Portugal consiga níveis no combate às

alterações climáticas que não tenham como pressuposto uma crise, um drama. Não, isso não é resposta, nem

exemplo para ninguém no mundo!

Sr. Deputado Paulo Sá, concordo muito com aquilo que o Sr. Deputado disse, designadamente em relação

aos mecanismos de mercado. Ou seja, fingir que se reduz para «rodar» poluição pelo mundo não é solução

para ninguém. E esse é justamente um dos mecanismos que consideramos que deveria ser corrigido ao nível

do Protocolo de Quioto.

Depois, o Sr. Deputado coloca a seguinte questão: por que é que têm tido insucesso as sucessivas

conferências da ONU e as Conferências das Partes a propósito das alterações climáticas? Sr. Deputado,

justamente porque não há vontade política para assumir esta matéria como uma das prioridades a nível