6 DE DEZEMBRO DE 2012
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Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João
Pinho de Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Braga, o senhor falou
sobre o que se passou no Eurogrupo e, embora menos, sobre aquilo que se vai passando na Europa.
De facto, o Partido Socialista tem apelado muitas vezes para que se debatam as questões europeias, num
apelo que é um apelo relevante, porque, indiscutivelmente, a situação em que estamos depende muito das
soluções que se consigam gerar ao nível europeu e muito dificilmente aquelas que gerarmos, a título
estritamente nacional, podem ser suficientes para resolver os problemas. Mas convém que tenhamos noção
de todos os problemas por que passa a Europa neste momento. A Europa não tem apenas um problema com
países que estão sob programas de assistência. É verdade que Portugal está sob um programa de
assistência, mas devemos ser nós os primeiros a dizer que esse não é o único problema da Europa e que a
Europa não tem três problemas chamados Grécia, Irlanda e Portugal, a Europa tem vários problemas, e a
esmagadora maioria deles está no centro da Europa, onde a Europa não os consegue resolver.
Esta é a Europa que não consegue aprovar o seu próprio orçamento; esta é a Europa que não consegue
dar passos decisivos para resolver um problema de ter criado uma moeda única que não tem mecanismos
próprios de uma moeda e que, portanto, não consegue ser suficientemente estável.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Esta é a Europa que não consegue criar uma união financeira
e bancária que permita, de uma vez por todas, separar o risco soberano do risco das instituições financeiras. É
nesta Europa que nós estamos envolvidos e é sobre esta Europa que nós temos de fazer os debates.
E é especialmente preocupante que, nesta Europa, haja um ministro das Finanças de um Estado soberano
que diga que Portugal não deve pedir aquilo que não é suscetível de ser pedido, aquilo que é nosso por
direito, e que haja, logo ao lado, outro ministro das finanças de outro Estado soberano que diga exatamente a
mesma coisa. Estamos a falar do ministro das finanças da Sr.ª Merkel, é verdade, mas estamos também a
falar do ministro das finanças do Sr. Hollande, que disse exatamente o mesmo que disse o ministro das
finanças da Sr.ª Merkel.
Portanto, para o Partido Socialista convém agora ter a noção disso, porque durante cerca de um ano
disseram que todo o problema europeu passava pela alteração de liderança em França, porque isso permitiria
equilibrar a Europa entre dois tipos de visões.
Sr. Deputado António Braga, o que lhe pergunto agora é onde está essa outra visão, porque o que eu ouvi
ao ministro das finanças do Sr. Hollande foi exatamente o mesmo que ouvi ao ministro das finanças da Sr.ª
Merkel. Então, onde é que estava essa esperança de que, afinal, Portugal não tinha soluções internas, mas
tinha uma grande solução externa que era a eleição do Sr. Hollande? Os senhores até foram para França
fazer campanha, porque diziam que era lá que estava a nossa solução!
Portanto, Sr. Deputado António Braga sobre a nossa bancada e sobre a maioria, não tenha qualquer
dúvida de que nunca deixaremos de reivindicar aquilo que é nosso por direito. E nosso por direito é a
aplicação de regras idênticas àquelas que forem aplicadas a qualquer outro Estado que esteja sob programa
de assistência, naquilo que é próprio do programa de assistência.
Isso pode ser muito importante para Portugal, não temos vergonha de o dizer. Não temos vergonha de
afirmar que se pudermos discutir maturidades e que se pudermos beneficiar de períodos de carência
alargados isso é muito importante para a situação em que estamos. Isso pode permitir, designadamente,
aliviar aquele que é o esmagamento fiscal em que vivemos neste momento. Claro que isso é relevante e
importante, nunca abdicaremos de o defender, mas também nunca admitiremos que seja por via da Alemanha
ou que seja por via da França e do Sr. Hollande que nos venham dizer que aquilo que é nosso por direito não
deve ser pedido.