I SÉRIE — NÚMERO 26
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para o centro da vida social. Assumiram um protagonismo ímpar na humanização de um mundo que insiste
em fugir da sua mais profunda essência, e fazem-no, apesar de tudo e de tanto, na luta permanente por
pertencerem a um lugar que é seu por direito, mas a que outros acedem com menos restrições.
Lembramo-nos tantas vezes deles e orgulhamo-nos, por exemplo, dos atletas paralímpicos, mas os
Paralímpicos dessas pessoas são todos os dias. Eles são heróis sempre e todos os dias. A todos estes atletas
da vida agradeço o exemplo e espero que todos estejamos à sua altura.
Aplausos do CDS-PP, do PSD e do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado Raúl de Almeida, inscreveram-se os seguintes Srs.
Deputados para lhe pedirem esclarecimentos: Mariana Aiveca, do BE; Maria Conceição Pereira, do PSD;
Jorge Machado, do PCP; Heloísa Apolónia, de Os Verdes; e Idália Salvador Serrão, do PS.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Raúl de Almeida, queria, em primeiro lugar,
cumprimentá-lo pela sua intervenção e pelo conteúdo da mesma, porque, de facto, temos todos e todas a
obrigação de mobilizar a defesa da dignidade das pessoas com deficiência.
Disse o Sr. Deputado, e bem, que o caminho destes últimos anos tem sido muito eficaz — se assim se
quiser — no que respeita à compreensão da sociedade para a discussão destas matérias e para não
estigmatizar aquelas pessoas que, como bem disse, eram tratadas com estatuto menor, como pessoas
menores, muitas vezes começando esse próprio estigma no seio da família, como todos bem conhecemos.
Por isso — o Sr. Deputado também o disse —, temos obrigação de pensar, de propor e de agir para
continuar um caminho que queremos cada vez mais igualitário para essas pessoas com deficiência
relativamente a toda a sociedade.
Sr. Deputado, o Bloco de Esquerda nunca enjeitou a sua responsabilidade e sua obrigação de pensar, de
propor e de agir. Fizemo-lo relativamente aos centros de emprego protegido, temo-lo feito em orçamentos do
Estado, temo-lo feito em todas as áreas da nossa intervenção.
O que lhe queria perguntar tem a ver com as medidas propostas pelo último Orçamento do Estado e em
relação ao qual o Bloco de Esquerda propôs que houvesse benefícios — se assim se podem chamar, pois não
se podem considerar benefícios, trata-se tão simplesmente de repor a dignidade destas pessoas — no sentido
de as deduções à coleta sofrerem alterações, situação retirada, se bem se lembram (e contestada pela sua
bancada — e muito bem, Sr. Deputado!), no Orçamento do Estado para 2007.
O Bloco de Esquerda fez, essencialmente, duas propostas: desde logo, tornar elegíveis para estas
deduções à coleta as pessoas com uma deficiência a partir de 80%, dado que, neste momento, apenas são
elegíveis pessoas com deficiência a partir de 90%; e também considerámos que deveria ser aumentada —
aliás, é uma reivindicação das organizações — essa mesma dedução à coleta.
O que é que aconteceu? Curiosamente, Sr. Deputado, as bancadas da maioria rejeitaram esta proposta do
Bloco de Esquerda.
Por isso, entendemos que temos a obrigação de propor e de agir, mas na hora de agir nem todos
pensamos de igual forma, lamentavelmente. Não bastam apenas as palavras ou os processos de intenções,
temos que continuar neste caminho.
O que se quer que a maioria faça é que intervenha de uma forma eficaz. E intervir de uma forma eficaz
seria, nesta circunstância, aprovar as propostas que o Bloco de Esquerda apresentou e que, lamentavelmente,
os senhores chumbaram.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, tem de concluir, pois já ultrapassou largamente o seu
tempo.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Queria apenas fazer uma pergunta muito direta. Considera o Sr. Deputado
justo que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa utilize a condição de recursos como critério para atribuir as
ajudas técnicas, sabendo nós que este é um direito de todos os deficientes? Não consideramos que esta seja
a melhor forma de o fazer.