6 DE DEZEMBRO DE 2012
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A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Raúl de Almeida, gostaria de saudar
o tema que trouxe a debate e também as suas palavras francas, sinceras e sentidas.
Devemos reconhecer que há ainda na sociedade, e não apenas na sociedade portuguesa, um profundo
alheamento quanto à realidade das pessoas com deficiência e das suas famílias, quanto à dureza do seu dia a
dia, dureza que, diria, encaram e enfrentam sempre com perseverança, sempre com otimismo. Essa é uma
lição de vida que devemos estar aptos a receber.
Independentemente de a deficiência poder vir, ou não, a ser uma questão de moda, é bom que ela seja
moda, porque se vai entranhando. Por isso, Sr. Deputado, não sendo este meu último comentário relativo à
sua intervenção, gostaria de dizer-lhe que, de moda em moda, vamos interiorizando as dificuldades mas
também as bem-aventuranças das pessoas com deficiência.
Sr. Deputado Raúl de Almeida, referiu na sua intervenção a questão das atribuições dos produtos de apoio.
Todos conhecemos a realidade, e ainda ontem, numa sessão pública de avaliação do Programa Rede Social
que se realizou em Coimbra, o Sr. Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social teve
oportunidade de garantir que a segurança social tem verbas ilimitadas para atribuição de produtos de apoio às
pessoas com deficiência.
Sr. Deputado, penso que a reação da plateia que ontem ouviu o Sr. Secretário de Estado, e que foi
bastante violenta, demonstra o conhecimento que as pessoas com deficiência, as famílias e as organizações
têm da realidade, das necessidades e também das capacidades do Estado.
Há que ter um discurso muito realista, e nós cá estaremos para ver qual vai ser a execução mas também
para fazermos um acompanhamento das famílias. Afirmar que a segurança social tem verbas ilimitadas é, na
nossa perspetiva, demagógico, é brincar com as famílias, é ir longe demais.
Sr. Deputado, a deficiência não são só produtos de apoio. De repente, os produtos de apoio caíram no
discurso do Governo como se fossem a descoberta dos males e de todos os bens da deficiência.
Sr. Deputado, qual é a estratégia do Governo para a deficiência — para a deficiência motora, para a
deficiência sensorial? Qual é a estratégia do Governo para a multideficiência? Para a comunidade surda? Para
a cegueira? Para a baixa visão? Se a deficiência é uma prioridade tão grande para o Governo, então, qual é a
resposta do Governo para os alunos com necessidades especiais na sequência do aumento da escolaridade
obrigatória até aos 18 anos? Qual é o trabalho que está a ser desenvolvido sobre esta matéria,
nomeadamente nos centros de recursos, com o Instituto do Emprego e Formação Profissional e com a
Direção-Geral da Educação? Não nos venham dizer que é simples e que os recursos que existem chegam.
Sr. Deputado, este é um discurso completamente irrealista! Não podemos ir nas modas, temos de ser
realistas e honestos para com as famílias, pois é demasiado grave aquilo que está em causa.
O Sr. Laurentino Dias (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Sr. Deputado, é nas instituições que reside o conhecimento sobre
as diferentes áreas da deficiência na sua multidisciplinariedade e na sua diversidade. Nesse sentido, o que é
que se passa com os Centros Novas Oportunidades para a deficiência? Como pensa o Governo dar resposta
ao significativo atraso que as pessoas com deficiência adultas têm em termos de escolaridade? Porque têm!
Há todo um processo de exclusão que tem de ser ganho para as pessoas com deficiência. Tem de ser ganho
para o Estado, mas para as pessoas com deficiência e para as famílias é inequívoco.
Não acha estranho, Sr. Deputado, que haja escolas do ensino particular e cooperativo sem alunos com
necessidades educativas especiais, segundo um relatório muito recente? Porque é que estas crianças não
estão também no ensino particular e cooperativo? Há aqui algum tipo de exclusão? O Estado é conivente com
este tipo de exclusão?
O Sr. Deputado referiu-se há pouco, parece-me, a prémios de mérito às empresas para premiar aquelas
que têm práticas inclusivas e práticas amigas das pessoas com deficiência. Isso é algo que já se desenrola há
muitos anos, que passou por vários Governo de diferentes forças políticas, portanto, não é nenhuma inovação.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, queria concluir. Já ultrapassou largamente o tempo
de que dispunha.