I SÉRIE — NÚMERO 29
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finge de «gato morto» no debate parlamentar sobre uma das questões determinantes para o futuro da
economia portuguesa.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Era bom que os senhores assumissem aqui, no Plenário da Assembleia da
República, a vossa responsabilidade na alienação dos maiores patrimónios que a economia portuguesa tem.
Aplausos do BE.
Protestos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lacão.
O Sr. Jorge Lacão (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Os tempos de profunda crise que o
País atravessa deveriam exigir dos decisores um forte empenhamento em estabelecer compromissos para a
solução dos problemas nacionais, pela necessidade da aceitação popular das medidas mais difíceis, a paz
social daí decorrente, a desejável eficácia das soluções e a sua indispensável estabilidade num ciclo político
de amplitude mais vasta do que o Governo e a atual maioria podem oferecer ao País.
Nenhuma destas preocupações se tem mostrado consequente na agenda do Governo. A começar nos
procedimentos de revisão sucessiva e unilateral do Memorando de Entendimento, comprometendo as
condições da coesão social de forma drástica e já com danos bem à vista de todos. A continuar com as
drásticas medidas de austeridade definidas no Orçamento do Estado para 2013, tomadas à margem de
qualquer entendimento em sede de concertação social. A persistir com o processo precipitado de
privatizações, com total evidência nos casos da TAP, da ANA ou da RTP.
Aplausos do PS.
O processo corre à medida das pressas do Governo e à margem das mais elementares exigências de
transparência. Privatizações em mau momento, a preços questionáveis, levadas a cabo por um Governo cuja
preocupação se sintetiza na obsessão de regressar aos mercados seja qual for o estado da economia e a
situação social dos portugueses, são o prelúdio do enfraquecimento do Estado e da sua capacidade operativa
para influenciar o destino real da economia.
Aplausos do PS.
Para um Governo que confunde delapidação e empobrecimento interno com competitividade externa, esta
política tem um nome: é uma política predadora dos interesses nacionais. Impõe-se, por isso, e com urgência,
atalhar os seus efeitos mais danosos. De imediato, impõe-se suspender os processos de privatização, dar
plena concretização ao disposto na Lei Quadro das Privatizações e estabelecer os critérios e as condições de
defesa dos interesses estratégicos do País. Estabelecê-los através de um processo político aberto — como o
PS propôs com as audições a realizar — na discussão dos melhores termos para defender o interesse
nacional, nomeadamente em relação aos ativos que devem ser protegidos da fúria privatizadora.
À medida que o Governo teima em hipotecar o futuro pelo desmantelamento, um após outro, dos grandes
projetos de modernização da economia e da sociedade é o País que empobrece. E que empobrece através de
um retrocesso com consequências imprevisíveis no nível de vida das novas gerações. Pelo presente caminho,
este Governo ficará responsável, em Portugal, por um retrocesso de civilização — da civilização social, cultural
e democrática até hoje levada a cabo pelo regime democrático.
Aplausos do PS.