I SÉRIE — NÚMERO 30
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que o Estado entenda, nuns casos, que o procedimento correto é o concurso público e, noutros casos, que
deve ser ele a nomear os administradores hospitalares, quando a tecnicidade da função cresce
consideravelmente — neste caso, existe mesmo formação superior específica para esta área.
Só desta forma é possível acabar com o atual regabofe que constitui a nomeação para estes cargos…
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Alberto Lourenço (PCP): — … de pessoas que, não reunindo o mínimo de condições técnicas
para o desempenho destas funções, acabam por ocupar estes lugares por razões exclusivamente partidárias.
São sobejamente conhecidos exemplos de nomeações para administrações hospitalares de pessoas que
nunca trabalharam no setor da saúde, que não têm o mínimo de formação nesta área, que nalguns casos vêm
de setores que estão nos antípodas da área da saúde e que de um momento para o outro são nomeados para
esta área, como são os casos bem conhecidos das nomeações na Administração Regional de Saúde do
Norte.
Por fim, refira-se que há mais de 10 anos a nossa bancada apresentou um projeto sobre este tema e que
continuamos a defender este método de escolha, porque é o que melhor defende o interesse público e o que
garante a transparência.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Ricardo
Baptista Leite.
O Sr. Ricardo Baptista Leite (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Deputadas, Srs. Deputados: O Bloco de
Esquerda apresenta, hoje, um projeto de lei que pretende alterar o processo de recrutamento e seleção de
administradores hospitalares e de diretores dos agrupamentos de centros de saúde para que seja efetuado
mediante concurso público.
Apesar de acreditar na bondade da vossa proposta, a mesma vem atrasada no tempo, para além de ser
inviável, irresponsável e populista.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Ricardo Baptista Leite (PSD): — A demagogia e o populismo subjacentes à proposta ficam claros
logo na Exposição de motivos, como foi aqui bem lembrado pelo Sr. Deputado Serpa Oliva, na qual o Bloco de
Esquerda afirma que o Ministro da Saúde, Paulo Macedo, é responsável — e passo a citar — por «um
corrupio de nomeações (…) a maioria das quais teve como critério principal a filiação nos partidos do Governo,
PSD e CDS-PP». Se há alguém no Governo a quem não podemos apontar falta de transparência e de rigor na
sua ação é, de facto, o Ministro Paulo Macedo.
Portanto, repudiamos de forma clara esta afirmação do Bloco de Esquerda. E repudiamo-la com factos
incontornáveis, como é a constatação de que cerca de 40% dos diretores dos agrupamentos de centros de
saúde, que tinham sido nomeados pelo então Governo do Partido Socialista, foram reconduzidos nas suas
funções já por este Governo com base em critérios de competência.
Mas repudiamos também esta visão do Bloco de Esquerda, porque chega a ser uma afronta para as
centenas de pessoas que têm vindo a assumir funções de gestão na Administração Pública, muitas vezes com
franco prejuízo profissional e pessoal, particularmente para as suas famílias.
A verdade é que muitos daqueles que têm vindo a assumir funções de liderança no Estado fazem-no por
espírito de missão, por estarem convictos de que, através da sua ação, podem assim servir o País,
particularmente no momento difícil que Portugal atravessa.
Por isso, Srs. Deputados, ao invés de tentarmos lançar suspeitas infundadas sobre a competência e o
mérito destes gestores públicos, saibamos nós, a partir da Assembleia da República, reconhecer e louvar o
esforço herculiano que exigimos a estes quadros dirigentes que são uma verdadeira força motriz da função
pública em Portugal.