20 DE DEZEMBRO DE 2012
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Esta obsessão do Governo e da maioria que o suporta pelas questões financeiras e orçamentais e a
secundarização das questões económicas, sociais e laborais não deixará de ter repercussões muito negativas
na capacidade de estas empresas prestarem serviços públicos de qualidade.
A sobrestimação da componente financeira está bem patente no facto de se pretender que a
responsabilidade e a decisão sobre todas as matérias relevantes da vida e do funcionamento das entidades do
setor empresarial do Estado passe a pertencer ao membro do Governo responsável pela área das finanças, o
qual, de acordo com a proposta de lei, designa um membro para o conselho de administração das empresas
públicas, com direito a veto sob quaisquer operações em matéria financeira, e exerce em exclusivo a função
acionista, incluindo a aprovação dos planos de atividades e dos orçamentos das empresas.
Esta concentração de poderes nas finanças e a consequente limitação dos poderes de tutela dos
ministérios sectoriais, remetidos agora para um mero papel de articulação, significa, na prática, que será o
Ministério das Finanças a determinar as políticas setoriais em vez de se limitar a garantir o financiamento
destas mesmas políticas.
Também no setor empresarial local, embora de forma mais mitigada do que no setor empresarial do
Estado, são reforçados os instrumentos de controlo e ingerência por parte do Ministério das Finanças,
nomeadamente através da atuação da denominada unidade técnica. Esta opção revela a intenção do
Governo, aliás já espelhada no recentemente aprovado regime jurídico da atividade empresarial local, de
sujeitar o poder local às suas orientações e aos seus objetivos políticos, desrespeitando os princípios da
autonomia das autarquias locais e da descentralização democrática da Administração Pública consagrados na
Constituição da República.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Com esta proposta de lei, o Governo prossegue o seu ataque aos direitos dos
trabalhadores do setor público empresarial: aplica-lhes o regime do contrato individual de trabalho, mas no que
diz respeito ao subsídio de refeição, às ajudas de custo, ao trabalho suplementar e ao trabalho noturno
equipara-os aos trabalhadores da Administração Pública.
Deste modo, o que o Governo pretende é aplicar aos trabalhadores do setor público empresarial «o pior
dos dois mundos». Não é uma uniformização, como a Sr.ª Secretária de Estado disse, é «o pior dos dois
mundos».
Acresce ainda que estas limitações de direitos prevalecem sobre os instrumentos de regulamentação
coletiva que disponham em sentido mais favorável em flagrante violação da Constituição da República, assim
como de convenções internacionais subscritas pelo Estado português. Estas limitações aos direitos individuais
e coletivos dos trabalhadores são absolutamente inaceitáveis, merecendo o nosso mais veemente repúdio.
Em suma, a proposta de lei apresentada pelo Governo não assegura o cumprimento das funções
económicas e sociais do setor público empresarial nem respeita os direitos dos trabalhadores; não garante a
existência de um sector público empresarial dinâmico e eficiente, capaz de desempenhar um papel
determinante no desenvolvimento económico nacional; representa mais um passo no caminho, que o Governo
insiste em trilhar, de reconfiguração do Estado e das suas funções sociais e económicas de acordo com o
seguinte princípio: Estado mínimo para os trabalhadores e para o povo, Estado máximo para os grandes
grupos económicos e financeiros.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, também para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro
Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
Secretárias de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: A
Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro colocou bem o problema — o problema do setor empresarial do Estado
é a desorçamentação crónica. O que quer dizer, na prática, que o Estado fazia exigências às empresas e não
colocava dinheiro nas mesmas, não cumprindo aquilo que lhes exigia.