I SÉRIE — NÚMERO 33
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Ora, inevitavelmente, o Memorando de Entendimento, na área da justiça, reconheceu esse problema — as
«boas intenções» fracassadas do Governo anterior — e reconheceu também as consequências gravosas para
o País daí decorrentes.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Prevê-se, assim, no Memorando, Sr. Deputado Filipe Neto Brandão, a
necessidade de melhorar o funcionamento do sistema judicial, nomeadamente aumentando a eficiência,
através da reestruturação do sistema judicial e adotando novos modelos de gestão dos tribunais.
Para tanto, felizmente, nesta matéria, foi possível a este Governo alterar, e para melhor, o Memorando de
Entendimento. Entendeu este Governo, e bem, empreender uma mudança de modelo em matéria de
organização judiciária, potenciando vantagens, corrigindo insuficiências, implementando novos modelos de
gestão, de distribuição de competências, bem como de afetação de pessoal, equipamentos e espaços.
Em notas breves, este diploma estabelece, de facto, uma nova matriz territorial das circunscrições judiciais,
já aqui sobejamente referida.
Por sua vez, aprofunda-se a especialização: é entendimento partilhado, Sr. Deputado João Oliveira, que a
possibilidade de as causas serem apreciadas por juízes especializados é um claro fator de qualidade da
decisão judicial, aliás como muito bem referiu a Sr.ª Ministra na sua intervenção inicial.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Nisso estamos em completo desacordo!
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Mais: introduz-se um novo modelo de gestão, pautado por ideais de
eficiência e transparência, e ressalto que também se prevê a importante implementação, nos tribunais, de
mecanismos de gestão por objetivos, definidos anualmente, por consenso e com a intervenção dos órgãos de
gestão do tribunal e dos órgãos consultivos da comarca.
Gostaria ainda de realçar que a gestão dos recursos humanos também será alterada.
Naturalmente, há questões que podem ser melhoradas ou clarificadas. Nenhuma reforma desta natureza é
isenta de críticas ou mesmo de alterações. Esperemos apenas que, a estas críticas, se sigam propostas
construtivas — algo que, infelizmente, nem sempre acontece —, fazendo, portanto, jus ao trabalho que já foi
aqui realçado pela Sr.ª Ministra.
Entre as principais dúvidas, assinaladas nos vários pareceres, salienta-se a garantia constitucional do
direito de acesso ao direito, ancorada numa interpretação restritiva do mesmo, enquanto reconduzido à justiça
dos tribunais. Nesta matéria, cumpre salientar que não há nenhum imperativo constitucional que obrigue à
existência de um tribunal por município e que existem, atualmente, 79 municípios sem tribunal, sem que daí
resulte qualquer divórcio entre as populações locais e os sistemas de justiça.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Bem lembrado!
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Com a reforma que se vai implementar, em todas as instâncias,
secções e secções de proximidade, é possível, Sr.ª Deputada Cecília Honório, realizar julgamentos, ouvir
testemunhas, através de videoconferência, praticar atos judiciais, obter informações sobre processos em curso
e entregar articulados ou requerimentos em qualquer ponto da comarca.
Mais: é preciso não esquecer o importante papel que têm, hoje, os mecanismos de resolução alternativa de
litígios e, em particular, os julgados de paz.
Chegámos a um ponto, Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, em que não é mais possível ignorar que a
justiça é uma das áreas essenciais da governação e um dos fatores principais para o desenvolvimento
económico do País; chegámos a um ponto em que é preciso encarar os estrangulamentos da justiça e dar-
lhes resposta adequada e corajosa, Sr.ª Ministra, não só porque nos comprometemos com o País, mas
também porque nos comprometemos com os nossos credores.
A prioridade tem de ser a celeridade, a qualidade, a transparência e a responsabilização, objetivos que
reconhecemos e aplaudimos na reforma em curso.