I SÉRIE — NÚMERO 38
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Para além disso, ao dificultar o processo de secagem, acarreta maiores custos no processo
sobrecarregando as empresas industriais portuguesas e, certamente, os consumidores.
Em Portugal, há unanimidade quanto à recusa deste novo procedimento. Todos os Deputados portugueses
no Parlamento Europeu subscreveram uma missiva ao Comissário Dali manifestando o seu desacordo com a
medida e solicitando intervenção para a sua não implementação.
O Partido Comunista Português, através dos seus Deputados no Parlamento Europeu, tem vindo a intervir
no sentido de esclarecer o processo e as implicações desta medida. Também aqui, na Assembleia da
República, apoiaremos este projeto do PS, em coerência com a nossa posição: Portugal tem que manifestar
claramente em Bruxelas que não aceitará a entrada no País de bacalhau com fosfatos.
Contudo, a unanimidade dos partidos políticos contra a introdução de fosfatos na cura do bacalhau não nos
deve inibir de refletir sobre os contornos deste processo. Países exteriores à União Europeia propõem
alterações que afetam países membros e a União assume essas alterações mesmo contra os interesses
desses países membros.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. João Ramos (PCP): — Isto remete-nos para duas constatações.
Desconhecemos as medidas tomadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros no âmbito dos contactos
bilaterais com a Noruega em torno deste processo. A diplomacia económica não pode ser apenas uma
estrutura de propaganda para o Ministro Portas. Ou o Ministério dos Negócios Estrangeiros abdicou de
contactos bilaterais, deixando nas mãos da União Europeia a defesa dos interesses de Portugal perante
países terceiros? Se assim é, o caso que hoje discutimos é um bom exemplo de que essa é a pior opção para
Portugal.
Os partidos que têm governado o País enquanto decorre o processo de adesão e integração europeias
estão agora contra esta medida, e isso é positivo. Mas isto não esconde as suas responsabilidades. Os
processos de aprofundamento do federalismo europeu e a eliminação de mecanismos que o País tinha para
impedir decisões comunitárias contra o seu interesse, como o direito de veto, têm sido opções do PS, do PSD
e do CDS.
Estas opções, a que chamaram «mais Europa», não têm resolvido os problemas do País nem da União
Europeia, mas deixaram Portugal à mercê das vontades dos donos da Europa e até de países terceiros ao
processo europeu. É por isso que o PCP sempre tem dito que, antes de discutirmos se queremos mais ou
menos Europa, temos de discutir que Europa e para que fim.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe
Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Este tema, como é bem visível,
não suscita no Plenário opiniões muito diferentes sobre o fundamental. As divergências que existem são
relativas a timings políticos, havendo até uma postura mais ou menos consentânea com aquela que tem sido a
atuação do Governo. Mas sobre o fundamental há unanimidade: não se pode colocar em causa um processo
que, em Portugal, é secular e que, sendo secular, já foi testado. É um processo natural, que as pessoas
conhecem e gostam e que, sendo uma caraterística nossa, não pode ser impedido agora por uma vontade
vinda do Norte da Europa.
Isto é o fundamental, por isso deveria sair desta Assembleia uma voz muito forte de todos os partidos para
defender na Europa aquilo que é nosso: não o bacalhau, mas a forma de o tratar, porque a forma de secagem
do bacalhau é que é a verdadeira caraterística nacional. É uma forma completamente natural, feita apenas
com o sal e, de facto, não se compreende como é que, de Bruxelas, há uma vontade de criar novas regras que
vão colocar em causa postos de trabalho portugueses e que vão colocar em causa um setor que tem