I SÉRIE — NÚMERO 55
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A Sr.ª Presidente: — A próxima pergunta é do Bloco de Esquerda.
Para o efeito, tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE):— Sr.ª Presidente, há pouco passou pelo Parlamento uma lufada de ar fresco,
um cheirinho a 25 de Abril. Bem precisados estamos desse 25 de Abril!
Aplausos do BE.
Vozes do PSD: — Ah!…
O Sr. João Semedo (BE):— Sr. Primeiro-Ministro, o seu Governo pode celebrar mais uma proeza, insólita
e dramática. Ficámos a saber que, em Portugal, o número de desempregados que não recebe qualquer apoio
do Estado — cerca de 1 milhão — é superior ao número oficial de desempregados, cerca de 900 000, e é
desse 1 milhão de portugueses que não têm qualquer apoio que quero falar-lhe, porque se nada for feito,
esses portugueses, em breve, engrossarão as fileiras da pobreza e da miséria em Portugal.
Diz-nos o Sr. Primeiro-Ministro, tranquilamente: «Bom, estamos a acelerar os mecanismos da
empregabilidade, estamos a acelerar as reformas que combaterão o desemprego estrutural…». Sr. Primeiro-
Ministro, isso são apenas palavras! E o que esses 1 milhão de portugueses lhe perguntam e lhe exigem são
ações concretas.
O Sr. Primeiro-Ministro está aí de braços cruzados, de braços caídos, atirando e deixando esse 1 milhão de
portugueses à sorte da caridadezinha «à la Dr.ª Jonet». Isso não é política social!
O que quero perguntar-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, é se, perante esta situação, está ou não disposto a repor
o subsídio de desemprego enquanto o trabalhador estiver desempregado, enquanto durar o seu desemprego.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem a palavra.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Semedo, por mais capciosa que seja a
forma de colocar uma questão que tem como consequência evidente o aumento de despesa não suportado
por financiamento do Estado, o resultado é sempre o mesmo: todas as políticas que têm o perfil daquela que o
Sr. Deputado agora colocou têm como efeito o aumento da despesa e, portanto, o aumento do défice.
O Sr. Deputado sabe que o Governo não tem essa liberdade e, portanto, pode fazer mais três perguntas
deste género colocando demagogicamente o problema. No entanto, o Sr. Deputado não colocará
demagogicamente o problema se souber quantificar essa medida e se souber dizer como é que ela pode ser
paga sem agravamento do défice. Se conseguir, sou o primeiro a dizer-lhe que o Governo não tem nenhuma
intenção de recusar qualquer proposta que vise melhorar as circunstâncias de penosidade social em que hoje
os desempregados vivem. Nenhuma!
Portanto, se, de boa-fé, a proposta é no sentido de dizer que o Governo tem isto ao alcance, não agrava o
défice, tem o financiamento próprio, eu gostaria de o ouvir; se não tiver, então, eu concluo que o Sr. Deputado
poderá dedicar-se a exercícios que, para efeitos de Telejornal, podem ter algum interesse demagogicamente,
mas não é um exercício que eu possa levar a sério.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado João Semedo, faça favor.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, ficámos a perceber que definitivamente
abandona esse 1 milhão de portugueses à sua má sorte.
Sr. Primeiro-Ministro, é grave a sua afirmação, sobretudo porque é Primeiro-Ministro de um Governo que
não hesitou em gastar 6500 milhões de euros de dinheiros públicos para refinanciar, para recapitalizar a