22 DE FEVEREIRO DE 2013
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Segundo a OCDE, Portugal é precisamente um dos países da União Europeia em que a comparticipação
pública na saúde é das mais baixas e a comparticipação paga pelos utentes é a mais elevada, o que, aliás, se
agravou com este Governo.
O Governo fala das dificuldades financeiras do SNS, mas nada faz para impedir que as companhias de
seguros continuem a ser financiadas pelo SNS e pela segurança social.
Todos os anos se verificam milhares e milhares de acidentes de trabalho e doenças profissionais, cujo
tratamento é feito pelo SNS e cujos custos e dias de baixa são suportados pela segurança social, quando
deveriam ser suportados pelas companhias de seguros, perante a passividade do Governo.
O Sr. Ministro falou das previsões falhadas, que, curiosamente, falham sempre para o mesmo lado, e
argumenta: «Ou temos menos educação, menos saúde e menos segurança social, ou mais impostos». Mas
esta afirmação não tem qualquer fundamento real e a sua credibilidade técnica é exatamente igual à
credibilidade das suas previsões, porque todos sabemos que a sustentabilidade financeira das funções sociais
do Estado não depende apenas da sua dimensão, mas, sobretudo, de outros fatores.
As políticas de austeridade, que levam ao que o Presidente da República chamou «espiral recessiva»,
provocaram uma enorme diminuição das receitas fiscais do Estado e das contribuições para a segurança
social, o que veio fragilizar a sustentabilidade financeira das funções sociais do Estado. Mas as receitas do
Estado podiam, ainda assim, ser bem mais gordas, se o Governo colocasse as empresas, sobretudo as
grandes empresas, a pagar uma taxa efetiva de IRC exatamente igual à taxa nominal, ou se o Governo
quisesse impedir a fuga de rendimentos para o estrangeiro, cujo propósito é apenas o de não pagar impostos
em Portugal.
A eliminação destas injustiças aumentaria a justiça fiscal e contribuiria, certamente, para garantir as
funções sociais do Estado.
A capacidade do Estado para financiar as suas funções sociais depende do crescimento económico. Uma
política como a que está a ser imposta, que promove a recessão económica e a destruição da economia, põe
inevitavelmente em causa o funcionamento do próprio Estado e das funções que o Estado deveria
desempenhar.
Em vez de se falar em mais cortes nas funções sociais do Estado, o que se exige é o regresso ao social, o
que se exige é o regresso às pessoas, o que se exige é que o Governo perceba definitivamente que a
economia existe para servir as pessoas e não são as pessoas que existem para servir a economia.
Aplausos da Deputada do BE Heloísa Apolónia e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Pizarro, do PS.
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Penso
que não deixa de ter significado e uma leitura política óbvia o facto de o Governo não se fazer representar por
nenhum dos elementos da equipa do Ministério da Saúde num debate sobre as funções sociais do Estado.
Aplausos do PS.
Isto admite a leitura de que é claro que o Governo quer retirar o Serviço Nacional de Saúde das funções
sociais do Estado. Nós já o tínhamos percebido e fica cada vez mais claro, pela postura do Governo.
Mas imagino que, no sistema de equivalências do Governo, algum dos Srs. Ministros possa, na intervenção
final, responder à questão que vou colocar.
Aplausos do PS.
Foram conhecidos, há dois dias, os números dos atendimentos do Serviço Nacional de Saúde durante o
ano de 2012. E os números são terríveis, assustadores: há menos 3 milhões de atendimentos no Serviço
Nacional de Saúde, em comparação com 2011, e menos 500 000 urgências, o que até poderia ser positivo, se
houvesse mais atendimentos nos centros de saúde, mas não, pois há menos 2,5 milhões de atendimentos nos