I SÉRIE — NÚMERO 60
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Sr. Deputado Paulo Sá, quero ainda dizer-lhe que esta questão das dívidas dos municípios é uma parte do
problema, que se prende com a tal questão da falta de sustentabilidade de muitos dos investimentos. Mas é
apenas uma parte. Estamos a falar do Grupo Águas de Portugal, com mais de 3000 milhões de euros de
dívida, que custam muito a pagar e que se refletem nas tarifas ou deveriam refletir-se nas tarifas, sob pena de
se refletirem em todos os contribuintes. É uma escolha, Sr. Deputado.
Quero dizer-lhe também que a intenção do Governo nesta matéria é muito clara: dar saúde económica e
financeira aos sistemas, para que melhor possam servir todos os cidadãos, e permitir que haja maior equilíbrio
entre tarifas, no interior e no litoral.
Posso dizer-lhe que, se nada for feito, Sr. Deputado, haverá um agravamento brutal das tarifas. Mas não é
em todo o País da mesma maneira. É no interior, onde as pessoas ganham menos, onde têm vidas mais
difíceis e onde é mais difícil fazer chegar a água a preços competitivos.
Por isso, a restruturação do sistema é essencial, para não haja esse aumento brutal e para que, nalguns
casos, haja mesmo diminuição de tarifas. Veja o que acontece no Alentejo, Sr. Deputado. Se o Alentejo aceitar
juntar-se ao sistema do Algarve, terá tarifas muitíssimo mais baixas, em benefício dos seus munícipes.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Vamos prosseguir com as intervenções, Srs. Deputados.
Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro Farmhouse.
O Sr. Pedro Farmhouse (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território, Sr.as
e Srs. Deputados: Fomos confrontados esta manhã, como há pouco disse,
com notícias que dão conta de uma nova lei-quadro das entidades reguladoras, que seria aprovada em sede
de Conselho de Ministros e não o foi.
Nada que nos surpreenda. O Governo terá de submeter a nova lei-quadro ao Parlamento até março, como
se prevê no relatório da sexta avaliação ao Programa de Assistência Económica e Financeira.
O que nos surpreende é que tenhamos de discutir esta tarde a alteração ao Estatuto da Entidade
Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos sem conhecer o conteúdo da lei-quadro à qual o Estatuto da
ERSAR terá de se submeter.
Sem querer recorrer a expressões populares, não posso deixar de dizer que este é bem o tipo de situação
que em bom português se chama «colocar o carro à frente dos bois».
Mas a lógica e a razoabilidade são algo que, infelizmente, não caracteriza a ação deste Governo e, muito
especialmente, do grande Ministério de Assunção Cristas, como foi comprovado hoje, através da apreciação
de uma proposta de lei que, nos grandes objetivos, como os do reforço e da independência, merece a nossa
concordância mas que, padecendo de vícios de forma, não podemos acompanhar, se a mesma não baixar à
respetiva comissão parlamentar sem votação.
Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, o calendário definido pela Sr.ª Ministra do Ambiente é muito pouco
inocente.
Seria lógico consolidar uma regulação forte, com condições para defender o interesse público, antes de
anunciar a privatização da Águas de Portugal e da Empresa Geral de Fomento. Mas o Governo preferiu
introduzir entropia no sistema, sem clarificar o papel dos municípios, sem redefinir os objetivos a atingir no
novo contexto de austeridade, sem atender à realidade dos nossos países parceiros e, sobretudo, sem
salvaguardar os interesses dos cidadãos.
Não é por isso despiciendo que, ao mesmo tempo que esta discussão tem lugar na Casa da democracia, a
mesma democracia permita que mais de 40 000 cidadãos apresentem uma iniciativa legislativa pela proteção
dos direitos individuais e comuns à água, porque os preocupa todo o conjunto de alterações em curso no
domínio da gestão dos recursos hídricos, bem como os prejuízos económicos, sociais e ambientais que
resultarão desta fúria privatizadora da Sr.ª Ministra e deste Governo.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Muito bem!