I SÉRIE — NÚMERO 61
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Sr.ª Presidente, Srs. Ministros, termino, parafraseando algo que ficou dramaticamente célebre na história
mundial e europeia: tal como, afinal, o trabalho não libertava, também em Portugal a austeridade da troica e
das vossas políticas não vai libertar o País. E contra essa austeridade e contra essas políticas se levantará o
povo português!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do BE.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
Temos hoje a possibilidade de, durante um período de avaliação da troica, falar com o Ministro de Estado e
das Finanças, que é o representante dos cortes que tivemos até hoje, no âmbito da execução do Memorando
de Entendimento, e com o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que agora se quer assumir
como «embaixador dos cortes» junto da troica.
Ora, neste momento, nesta tal sétima avaliação que a maioria diz que é a mais importante de todas —
como se as anteriores não tivessem existido e como se as próximas não fossem definitivas, porque, como nos
diz a maioria, esta é a mais importante —, chegou o momento de falarmos de transparência, de clareza, mas
também de responsabilidade perante o País.
O Sr. Ministro tentou hoje, a par do que já fez o Sr. Primeiro-Ministro, rescrever a história. Disse, da tribuna,
que afinal o Governo não pede nem mais tempo nem mais dinheiro. Ora, isto é falso! Tal como é falso o que o
Sr. Ministro disse no passado, ou seja, que as metas são para cumprir, «custe o que custar», e que agora
desmente com as suas palavras. Foi falso, porque o Governo falhou a primeira. É falso, porque o Governo
está a falhar a segunda.
O Governo falhou, porque impôs ao País uma receita de austeridade que está a destruí-lo. Não há
economia que resista à austeridade promovida pelo Governo, apadrinhada pela troica!
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — E, como a economia não resiste, o défice agrava-se, a dívida pública
vai para lá do que era expectável e o desemprego assume contornos de calamidade pública: não para de
aumentar!
Ora, perante este abismo social e económico, o que o Governo nos deveria dizer é que falhou, que assume
as suas responsabilidades e que vai arrepiar caminho em sentido contrário.
Mas não ouvimos isso! Ouvimos as vontades e os desejos enumerados pelo CDS e ouvimos também, da
tribuna, as vontades, os desejos e até a imaginação do Sr. Ministro das Finanças, que nada têm a ver com a
política concreta do Governo.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Em relação à política fiscal, o Sr. Ministro das Finanças é o
responsável pelo maior aumento fiscal a que os portugueses alguma vez assistiram. O saque fiscal é da sua
autoria, Sr. Ministro! Ou já se esqueceu?
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros vai negociar cortes de 4000 milhões de euros. Mais
austeridade! Onde é que está a política de crescimento? Onde está a responsabilidade que o Sr. Ministro
deveria ter perante as suas próprias palavras quando disse que neste momento já estaríamos a crescer?
Afinal não são desejos, Sr. Ministro. É o mundo da imaginação do Governo, que vive num mundo à parte
da realidade do País e que, por isso, não para perante nada. Não para perante o desemprego, não para
perante a dívida galopante, não para perante os défices, que não param de crescer.
Dizia-nos o Sr. Ministro das Finanças, apelando à honra e à Pátria (a este sentimento do País), que
Portugal é um país de marinheiros, de navegadores e que já fez frente a muitas dificuldades.