I SÉRIE — NÚMERO 63
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O Sr. Alberto Martins (PS): — A renegociação dos prazos, dos juros e o reembolso dos lucros do BCE
impõem uma estratégia de renegociação das condições de ajustamento da dívida que garanta condições de
relançamento da economia, criando emprego e assegurando, a prazo, a sustentabilidade do nosso
desenvolvimento.
Aplausos do PS.
A opção do Primeiro-Ministro de recusar as propostas apresentadas pelo PS, por António José Seguro,
desde logo, as de aumento do salário mínimo e das pensões mais baixas, é reveladora do desprezo do
Primeiro-Ministro pelo direito de qualquer cidadão a ter condições mínimas de vida, com dignidade, e revela,
ainda, a falta de visão sobre a necessidade de compensar a quebra nas exportações com o estímulo à
economia, deste modo favorecendo a procura interna e, por essa via, a diminuição do desemprego.
É inqualificável — digo e repito, é inqualificável — que um Primeiro-Ministro se apresente ao Parlamento,
como ontem aqui ouvimos, a defender que aumentar o salário mínimo geraria mais desemprego neste
momento. E concluiu: «Quando um país enfrenta um nível elevado de desemprego, a medida mais sensata
que se pode tomar é exatamente a oposta», isto é, baixar os salários.
O contributo ideal do Primeiro-Ministro para Portugal seria, assim, reduzir o salário mínimo nacional, o que
demonstra querer aumentar a competitividade pela via dos baixos salários. Isto diz tudo sobre a inacreditável
insensibilidade social do Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho. Coisa nunca vista!
O Primeiro-Ministro não compreendeu que qualquer modelo de desenvolvimento para Portugal não pode
assentar em salários baixos, na precarização das relações laborais, na desvalorização da concertação social e
no empobrecimento dos portugueses. A competitividade que queremos exige inovação, investigação aplicada,
eficiência gestionária, aproveitamento de recursos endógenos, formação e valorização profissionais, em suma,
uma marca diferenciadora de Portugal.
Sr.as
e Srs. Deputados, a situação económica e social que vivemos está a minar os alicerces do contrato
social que regula a nossa vida coletiva e, por essa via, a degradar as regras e os valores em que assenta o
regime democrático.
Retomo o que disse no início: a ditadura da austeridade tem-nos conduzido à recessão, ao retrocesso
social e a um aumento descontrolado do desemprego. Há que mudar de caminho. O País precisa de
mudança, de abandonar a política de austeridade a qualquer custo, de se propor a alternativa do crescimento
e do emprego. É esse o sentido de mudança que o Partido Socialista defende.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos ao Sr. Deputado Alberto Martins, os Srs.
Deputados Adão Silva, do PSD, Cecília Honório, do Bloco de Esquerda, António Filipe, do PCP, e João Pinho
de Almeida, do CDS-PP.
Entretanto, o Sr. Deputado Alberto Martins informou que pretende responder um a um.
Tem, pois, a palavra o Sr. Deputado Adão Silva para um pedido de esclarecimento.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Alberto Martins, finalmente um ministro do
anterior Governo quebrou o silêncio.
Risos do PS.
E fez bem em quebrar o silêncio, Sr. Deputado, porque V. Ex.ª abordou questões da maior relevância,
nomeadamente que a negociação do Memorando de Entendimento e a implantação, em Portugal, do
programa decorrente do Memorando trouxe austeridade, desemprego e recessão.
Sr. Deputado, a primeira pergunta que lhe colco é esta: tendo sido V. Ex.ª membro do Governo que assinou
este Memorando, não estava compenetrado das consequências que ele ia ter? Esta é a primeira pergunta que
tenho de fazer ao Sr. Deputado. Ou fez como aquele ministro grego que veio reconhecer, ingenuamente, que,
afinal, não tinha lido o programa de austeridade que tinha assinado com a troica?