I SÉRIE — NÚMERO 63
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Até tive uma intervenção — provavelmente, o Sr. Deputado não se recorda — muito significativa sobre todo
o pacote da transparência no Estado português, uma matéria que é, certamente, da sua preocupação.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Não lhe interessa!
O Sr. Alberto Martins (PS): — Relativamente à questão da austeridade, devo dizer o seguinte: o Governo
português de que eu fiz parte negociou com as entidades europeias um PEC 4, que os senhores, associados
aos partidos da esquerda e ao CDS, votaram contra quando as entidades europeias estavam de acordo com
esse PEC 4.
Aplausos do PS.
E os senhores votaram contra por razões políticas de interesse imediato, numa lógica de poder.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Alberto Martins (PS): — Sr. Deputado, sempre dissemos que a disciplina e o rigor orçamentais são
articuláveis com as políticas de crescimento e de emprego, mas o que aconteceu foi que o seu Governo, tendo
sido alertado em tempo, pôs isso de lado e adotou uma opção, nos cânones da ortodoxia da Sr.ª Merkel, de
pura austeridade!
O Sr. José Junqueiro (PS): — Exatamente!
O Sr. Alberto Martins (PS): — Há um conjunto alargadíssimo de personalidades, individualidades do
mundo económico, Prémios Nobel da Economia que dizem que isso é errado e está a revelar-se errado. Ora,
isso não é só errado, é desastroso. Em Portugal, é desastroso!
O Sr. Presidente da República já falou em espiral recessiva, portanto, Sr. Deputado, siga o economista
que, em tempos, foi secretário-geral do seu partido, porque, nesta matéria, certamente faz-lhe bem essa
sequência.
Aplausos do PS.
Sr. Deputado, quanto ao salário mínimo e à evolução económica em Portugal, temos duas marcas — 2008,
2009 e recentemente — que têm o epicentro na Europa.
Os problemas da evolução portuguesa, os problemas dos défices estruturais da economia portuguesa
existem, são conhecidos, foram sendo combatidos e têm de ser combatidos de forma muito mais rigorosa,
aprofundada e diversificada. Porventura, o nosso modelo de desenvolvimento tem de ser alterado de forma
radical, mas há uma questão de fundo, que é a do défice da democracia estrutural na Europa.
Hoje, há uma falência da democracia estrutural da Europa, em que a soberania dos Estados — cada um
dos Estados considerados e a Europa, no seu conjunto — cedeu à força do capital especulativo financeiro.
Nós estamos nessa situação e o desafio da Europa é esse.
Portugal foi apanhado nessa evolução, em que as soberanias nacionais perderam para o capital
especulativo e em que a política passou para segundo plano, por isso muitos dos objetivos que tínhamos nos
nossos propósitos, face à alteração das circunstâncias, tiveram de ser alterados. Esta é a realidade, como o
Sr. Deputado sabe tão bem como eu.
Ora, neste momento, o que se passa é que o Secretário-Geral do PS, entre outras medidas concretas,
apresentou uma medida que tem o objetivo de garantir a dignidade a todas as pessoas, sobretudo aos mais
pobres, e o objetivo de estimular a economia, a procura e o consumo, que são essenciais para evitar o
crescimento galopante do desemprego.
Aplausos do PS.