I SÉRIE — NÚMERO 74
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Sobre isso, já agora, quero dizer-lhe que o desinvestimento na qualificação dos portugueses é global e
total, tal como ficou ontem bem evidenciado numa conferência que aconteceu na Assembleia da República
sobre o ensino profissional.
Os Srs. Deputados apoiam este Governo, apoiam este Ministro e, afinal, aquilo que querem é «inventar a
roda», quando «a roda está inventada». Acabam com os Centros Novas Oportunidades, trazem-nos os
Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional, uma resposta mínima para os graves problemas que
temos, em Portugal.
Sr. Deputado, segundo o último Censos, sabe quantos portugueses em idade ativa e que fazem parte dos
trabalhadores é que não têm o 12.º ano? Vou dizer-lhe, Sr. Deputado: são dois milhões e trezentos mil
portugueses que não têm o 12.º ano.
Qual é a resposta que o Ministério da Educação e VV. Ex.as
têm para estes trabalhadores? Não têm uma
resposta e acabam com aquelas que existiam.
Portanto, Sr. Deputado, quero dizer-lhe, de viva voz, que aquilo que nos deixou aqui hoje foi nada e foi
coisa nenhuma! E a melhor resposta tê-la-ão, com certeza, pela voz dos portugueses, que, efetivamente,
traduzem aquilo que é a vossa inexistência no âmbito do Ministério da Educação. Eles querem respostas
concretas e os Srs. Deputados do CDS e do PSD e o Governo não lhas dão! Nem uma palavra para as
famílias que viram os seus problemas resolvidos com as políticas sociais que também se traduziram nas
políticas educativas.
Portanto, Sr. Deputado, a pergunta concreta que lhe deixo é esta: qual é a resposta que têm para os dois
milhões e trezentos mil portugueses que não têm o 12.º ano?
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Michael Seufert, trouxe aqui a debate as matérias
relacionadas com a educação, e bem, porque os problemas com que hoje a escola pública está confrontada
são muitos e merecem, de facto, discussão, reflexão, e propostas alternativas, neste caminho em que a escola
pública está a ser sujeita a ataque e desfiguração do seu papel.
É bom reconhecer que este caminho de ataque à qualidade da escola pública não começou agora com
este Governo. Aliás, o Sr. Deputado deu aqui, inclusivamente, exemplos que mostram que o caminho
começou em Governo anteriores, em propostas como as dos mega-agrupamentos, da reorganização curricular
e outras medidas que estão colocadas em cima da mesa e relativamente às quais importa haver memória.
Sr. Deputado, gostaria de colocar-lhe algumas questões sobre esta matéria.
Relativamente ao mega-agrupamentos, medida que o Governo do PS começou, o CDS, quando estava na
oposição, apresentava projetos de resolução para suspender os mega-agrupamentos; quando chegou ao
Governo começou a desencadear uma política, contra tudo e contra todos, de alargamento dos mega-
agrupamentos.
Vou só dar dois exemplos, os de Leiria e de Braga, onde não houve um único parecer favorável à
constituição do mega-agrupamento. Eram escolas que tinham projetos educativos autónomos e importantes,
mas o mega-agrupamento destrói e coloca ingerível uma instituição com mais de 3000 alunos. Portanto, aqui
está uma prova de como os mega-agrupamentos não são feitos com vista à melhoria da qualidade
pedagógica; têm, sim, objetivos economicistas e programáticos de destruição do papel da escola pública e de
despedimento de professores, de funcionários e de psicólogos.
O que temos aprendido com os mega-agrupamentos é que, se numa escola existia um psicólogo, quando
acontece um agrupamento de escolas esse psicólogo passa a repartir-se por todas as escolas do
agrupamento.
Se temos já hoje problemas gravíssimos de falta de professores, de funcionários e de psicólogos, o mega-
agrupamento é bem o exemplo de uma medida que não vai melhorar em nada a qualidade da escola pública e
que serve exatamente para fazer dos trabalhadores da escola pública gato-sapato, para que, caso falte um
funcionário numa escola, o funcionário que está a quilómetros de distância tenha de deslocar-se sem que