I SÉRIE — NÚMERO 76
4
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — O Governo pratica uma política de terra queimada, quer criar o caos
no Estado e no País para encontrar pretexto para a continuação do seu programa de destruição nacional. É,
de facto, a política do quanto pior melhor!
O Governo já está, de facto, a cair. Está a cair com os ministros e secretários de Estado, que anunciam as
suas demissões e depois não se demitem de facto, com os restantes que teimam em ficar, com um Primeiro-
Ministro que acha que firmeza e determinação é obedecer ao grande capital e à troica e impor ao povo e ao
País.
Este Governo é sustentado, neste momento, apenas pelo Presidente da República.
O Sr. Honório Novo (PCP): — É verdade!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Foi debaixo da proteção do Presidente da República que o Governo
se foi colocar na sequência do acórdão do Tribunal Constitucional. O Governo é hoje um protetorado do
Palácio de Belém.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não causa admiração que o Presidente da República defenda a
política do Governo. Ela foi sempre também a sua política e teve sempre o seu apoio.
O que não é aceitável é que se ignore que está hoje claramente em causa o regular funcionamento das
instituições.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Está em causa quando o Governo, afirmando hipocritamente respeitar
a decisão do Tribunal Constitucional, tudo fez para a condicionar antes e tudo faz agora para assacar aos
juízes constitucionais a responsabilidade pelas consequências da política do Governo.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não foi o Tribunal Constitucional, mas sim o Governo, que inscreveu
no Orçamento normas inconstitucionais. Não é o Tribunal Constitucional, mas sim o Governo, que ataca os
direitos dos portugueses.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Quando o Governo repetidamente afirma que vivemos numa situação
de exceção e com isso quer afastar o cumprimento dos direitos e das regras mais elementares,
designadamente da Constituição, o que é isso se não pôr em causa o regular funcionamento das instituições?
Aplausos do PCP.
Quando o Governo se prepara para determinar que o ensino obrigatório deixa de ser gratuito, que a saúde
deixa de ter acesso para todos, que o desemprego deixa de ter subsídio, o que é isso se não pôr em causa o
regular funcionamento das instituições?
Quando um Governo tem dois orçamentos consecutivos declarados inconstitucionais, o que é isso se não o
comprometimento do regular funcionamento das instituições?
Quando o Ministro das Finanças e, logo, o Primeiro-Ministro e o Governo determinam por despacho o
condicionamento do funcionamento dos tribunais, das forças de segurança, das escolas, dos centros de
saúde, das universidades, o que está em causa é o regular funcionamento das instituições.
Vozes do PCP: — Exatamente! Muito bem!