I SÉRIE — NÚMERO 76
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requerimento e com outros (entre os quais aquele que subscrevemos em conjunto), de que havia normas
inconstitucionais.
Quando o Primeiro-Ministro fez a sua declaração ao País, no sábado passado, e exigiu do Presidente da
República uma concordância e uma confirmação do seu Governo, ele estava também a atacar o requerimento
do Presidente da República ao Tribunal Constitucional. Mas o Presidente da República, apesar de ser
requerente ao Tribunal Constitucional, fez a medida baixa, ou seja, adotou e rebaixou-se completamente à
posição do Governo. E este é um fator que hoje veio agravar a instabilidade política, porquanto o Presidente
da República, pensem o que pensarem, não é, afinal, um fator de diálogo, de convergência e de alguma
estabilização, de recuperação do funcionamento das instituições democráticas, mas, muito pelo contrário, é
alguém que personifica a inconsequência total: requer a inconstitucionalidade ao Tribunal Constitucional, o
Governo maltrata quem declara a inconstitucionalidade, maltrata até quem concordou com o Presidente da
República e a solução é o Governo confirmado em funções.
Isto é o cúmulo da deceção política, popular e social sobre a atitude do Presidente da República. E o
Presidente da República tem responsabilidades agravadas, pois ele era parte deste problema e não um árbitro
que estivesse afastado da questão que estava para ser dirimida em sede de Tribunal Constitucional.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Deputado Bernardino Soares.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Fazenda, agradeço as suas
questões. Fez bem em salientar o duplo chumbo orçamental a que este Governo já foi sujeito pelo Tribunal
Constitucional. É talvez o Governo mais inconstitucional da história do regime democrático — e, no entanto,
continua!
É verdade que para que se respeite o regular funcionamento das instituições não basta que a Assembleia
da República reúna às quartas, quintas e sextas-feiras, não basta que o Conselho de Ministros reúna à quinta-
feira de manhã, não basta que o Presidente da República esteja em funções, é preciso que as regras da
Constituição sejam respeitadas, e elas não estão a sê-lo. E, não estando a sê-lo, se há que optar entre um
Governo que não respeita a Constituição e a Constituição que é a Lei Fundamental do País, é o Governo
quem tem de sair, não é a Constituição que tem de ser suspensa.
Aplausos do PCP.
E é evidente que o papel do Presidente da República, neste momento, é o de ser o sustentáculo político
deste Governo, Governo que é um protetorado da Presidência da República, pelo menos desde o último fim-
de-semana. Vivem numa união de facto política e institucional. E é isso que os portugueses têm de saber: que
é preciso demonstrar publicamente, pelas ações de luta das populações e dos trabalhadores, pela intervenção
nos órgãos institucionais e pela expressão da opinião e do protesto, que esta situação não pode continuar,
ultrapassou todos os limites, está podre e tem de cair, porque é assim que se respeita a democracia e porque
é assim que se respeita a Constituição.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Menezes.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bernardino Soares, ouvi-o com toda a
atenção e quero passar muito diretamente a algumas questões que colocou aqui. Uma delas, a primeira, é
relativa ao Tribunal Constitucional.
A decisão do Tribunal Constitucional foi conhecida na sexta-feira e a nossa posição é muito clara: nós
discordamos daquilo que o Tribunal Constitucional decidiu em plenário. E temos todo o direito de discordar,
porque toda e qualquer decisão judicial é passível de ser sujeita a uma opinião que sobre a mesma pode ser
feita. Mas esta não é só a posição deste partido, é preciso lembrar que também houve cinco juízes do Tribunal