I SÉRIE — NÚMERO 82
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O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Carlos Zorrinho, em primeiro lugar,
queria sublinhar um dos aspetos da sua intervenção: a absoluta falta de respeito por todos os portugueses e
pelos partidos políticos, designadamente por aqueles que estão representados nesta Assembleia,
demonstrada pelo método utilizado ontem para divulgação dos dados da execução orçamental.
O Governo quis fazer um comentário marcando a agenda no plano mediático, omitindo o fundamental dos
dados e só libertando os dados, para todos os poderem conhecer, uma hora e meia depois de ter feito o seu
comunicado.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Uma vergonha!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso é absolutamente inaceitável! É uma manipulação de dados que
são oficiais, produzidos por organismos oficiais, que não são propriedade nem do Governo, nem do PSD, nem
do CDS; são organismos do Estado português e produzem informação para todos os portugueses, não apenas
para a agência de comunicação do Sr. Ministro das Finanças.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Entrando no conteúdo da matéria, Sr. Deputado Carlos Zorrinho, de
facto, os dados confirmam que com esta política não há crescimento económico, não há criação de emprego,
não há receita. E não havendo receita, não há consolidação das contas públicas, não há diminuição da dívida.
Isto é, tudo aquilo que foi anunciado como objetivo que justificava as medidas profundamente antissociais que
estão a ser tomadas não se verifica, aliás, acontece exatamente o contrário.
Veja-se: no documento que o Ministério da Economia ontem divulgou, qual é a primeira medida apontada,
já elaborada, para dinamizar a economia? A reforma da legislação laboral. E bem se compreende, porque
para, este Governo, dinamizar a economia é amarfanhar os direitos dos trabalhadores, é poder despedir mais
facilmente, é baixar os salários. Esta é, de facto, a política deste Governo.
Sr. Deputado, rapidamente, queria também comentar a questão da manigância que se está a fazer com a
obrigação de se devolverem os subsídios dos trabalhadores da Administração Pública, dos reformados e dos
pensionistas. É uma manigância que pretende negar um direito que já existia e que foi confirmado pelo
Tribunal Constitucional.
Para terminar, Sr. Deputado Carlos Zorrinho, quero dizer-lhe que, evidentemente, a análise está bem-feita,
mas agora é preciso olhar para as causas desta situação, é preciso concluir que o pacto assinado pela troica é
o obstáculo que é necessário remover para termos uma política de crescimento económico e de criação de
emprego. E não vale a pena dizer que um partido responsável é aquele que não critica muito o Governo ou
aquele que deixa que o Governo continue para não criar uma crise política. Não, Sr. Deputado.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr. Deputado queira concluir.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Vou terminar imediatamente, Sr.ª Presidente.
Um partido responsável é aquele que não deixa que esta desgraça continue, e daí a pergunta que lhe faço.
Sr. Deputado, o Partido Socialista abandonou, há umas semanas, o discurso de exigir a demissão do
Governo e a convocação de eleições que teve até à moção de censura. Pergunto: perante a desgraça em que
está o País, é ou não uma necessidade imediata e um objetivo prioritário demitir o Governo e convocar novas
eleições?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Zorrinho para responder.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bernardino Soares, começo por responder à
sua última questão.