26 DE ABRIL DE 2013
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O Sr. Presidente da República: — Sr.as
e Srs. Deputados: Após algumas hesitações iniciais, a União
Europeia começa a perceber que os problemas verificados em alguns países são problemas que a todos
afetam e que a crise na zona euro não se resolve apenas com a imposição de políticas de austeridade e a
aplicação de sanções aos Estados com défices excessivos.
Nos últimos dois anos, verificou-se um reforço da coordenação das políticas económicas e estruturais dos
Estados-membros, a qual tem no Semestre Europeu o seu principal mecanismo. Neste domínio, e tendo em
conta as decisões do Conselho Europeu, é possível perspetivar avanços muito significativos no médio prazo.
O Banco Central Europeu, por sua vez, anunciou a disponibilidade para intervir ilimitadamente no mercado
secundário de dívida soberana de países sujeitos a programas de assistência. Tratou-se de um marco decisivo
para combater os ataques especulativos que vinham minando a zona euro.
Tenho insistido num ponto de importância crucial: o Banco Central Europeu deve assumir-se, cada vez
mais, como um verdadeiro Banco Central, configurando-se, inclusivamente, como um «emprestador de último
recurso».
Aguarda-se a entrada em vigor do Mecanismo Único de Supervisão, primeiro passo para a construção de
uma união bancária europeia, enquanto a criação de instrumentos de dívida comum tarda em ser colocada na
agenda europeia, apesar de ser reconhecida como uma resposta determinante para debelar a crise da zona
euro.
Apesar dos desenvolvimentos recentes, temos de reconhecer que esta crise veio expor sérias fragilidades
da União. Para além da lentidão e tibieza na resposta à crise do euro, o maior fracasso da União Europeia
residiu — e reside — na promoção do crescimento económico e do emprego.
Em 2012, a zona euro registou uma contração do produto de 0,6% e as previsões apontam para que a
situação continue a evoluir negativamente, neste ano de 2013. A taxa de desemprego na União subiu
consecutivamente nos últimos cinco anos — 26 milhões de pessoas estão desempregadas, das quais 5,7
milhões são jovens.
A zona euro encontra-se no quinto trimestre consecutivo de queda do produto, no sexto trimestre
consecutivo de queda da procura interna, no sétimo trimestre consecutivo de queda do investimento.
Vozes do PS: — Porque será?
O Sr. Presidente da República: — Podemos dizer que a União Europeia falhou na coordenação das
políticas económicas. Quando, aos países que executam programas de consolidação dos défices públicos, se
juntam políticas contracionistas nos outros Estados-membros, é óbvio que a consequência será uma recessão
no conjunto da União, como agora se está a verificar.
Por sua vez, o Quadro Financeiro Plurianual 2014-2020, aprovado pelo Conselho Europeu no passado mês
de fevereiro, embora tenha deixado Portugal numa posição mais favorável do que aquela que resultava das
propostas iniciais, não corresponde, de modo algum, à resposta europeia exigida pela situação económica e
social da União. O Parlamento Europeu tem denunciado essa insuficiência de uma forma clara e inequívoca.
Note-se ainda que a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional, na conceção dos ajustamentos
negociados com os países em dificuldades de financiamento, não tiveram em devida conta o impacto
recessivo das medidas propostas e as suas consequências.
As instituições financeiras internacionais, fazendo uso da sua força persuasiva, enquanto credores, terão
induzido os governos dos países em dificuldades a aplicarem medidas que violam regras básicas de equidade,
regras que constituem alicerces das sociedades democráticas contemporâneas. Ameaçando a coesão e a paz
social, perturbaram a estabilidade das democracias constitucionais e geraram novos sentimentos
antieuropeus.
Em matéria fiscal, princípios essenciais de justiça foram esquecidos, exigindo-se sacrifícios muito
diferentes a cidadãos que se encontram na mesma posição quanto aos fatores relevantes de bem-estar. A
decisão do Eurogrupo sobre Chipre foi o caso mais recente, com consequências nocivas para a adesão dos
cidadãos ao projeto europeu.
Em 2013, a União assinala o Ano Europeu dos Cidadãos. É tempo de as instituições e os líderes europeus
ouvirem a voz da cidadania. Temos, de uma vez por todas, de reconquistar a confiança dos europeus num