26 DE ABRIL DE 2013
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Uma parcela relevante deste sucesso deve-se ao aumento das exportações de bens e serviços, sobretudo
com destino aos novos mercados situados fora da União Europeia, e ao aumento da sua componente
tecnológica. Este é um caminho que provou ser acertado e que, como tal, deve ser prosseguido ainda com
mais intensidade.
Uma pequena economia aberta ao exterior, como é o caso da economia portuguesa, apenas pode ser
sustentável no longo prazo através de uma aposta inequívoca no investimento privado que garanta um setor
exportador dinâmico e de elevado valor acrescentado.
Contudo, não podemos esquecer que uma parte do ajustamento das contas externas se está a realizar por
via da redução das importações, devido à quebra acentuada da procura interna, fruto, em boa medida, da
redução do rendimento disponível das famílias, das dificuldades de crédito das empresas e da incerteza e falta
de confiança dos investidores.
Vozes do PS: — Ah!
O Sr. Presidente da República: — Por outro lado, através da execução do Programa foi possível reforçar
a solidez do sistema bancário. Os bancos foram recapitalizados e apresentam hoje bons rácios de
solvabilidade. Os portugueses têm razões para manter a confiança no nosso sistema bancário.
Não se pode ignorar, no entanto, que a rápida desalavancagem dos bancos produziu dificuldades
acrescidas no financiamento de muitas empresas, sobretudo das pequenas e médias empresas.
O facto de as unidades produtivas, que exportam bens e serviços e que criam riqueza e emprego,
suportarem encargos de juro muito superiores às suas congéneres europeias prejudica seriamente a sua
competitividade, afeta as decisões de investimento e, no limite, põe em causa a sua própria sobrevivência.
Em face da fragmentação que se verifica no mercado monetário europeu, é urgente criar novas fontes de
financiamento não bancário das empresas.
Devemos sublinhar também a realização, em diversos domínios, de reformas estruturais que, no médio
prazo, irão contribuir para a melhoria de competitividade da economia portuguesa. Trata-se de um processo
que não está concluído e que exige um esforço renovado e permanente de diálogo e compromisso em sede
de concertação social.
Mas, sem dúvida, o aspeto que mais deve ser realçado destes dois anos muito difíceis é o sentido de
responsabilidade revelado pelos portugueses.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O nosso povo foi confrontado com grandes sacrifícios e duras exigências e deu mostras da sua maturidade
cívica, consolidada ao fim de quatro décadas de democracia. Não perdemos a identificação com os valores da
democracia nem abandonámos o espírito de coesão nacional que sempre nos caracterizou.
Ao dramatismo de várias situações de carência, os portugueses têm respondido com um exemplar trabalho
de entreajuda e com uma extraordinária solidariedade.
Os consensos políticos e sociais alcançados contribuem para vencer os desafios que Portugal enfrenta e
também para o modo positivo como os credores e os mercados avaliam a execução do Programa de
Assistência Financeira.
Este fator, aliado a uma maior determinação do Banco Central Europeu na defesa do euro, conduziu a uma
descida muito expressiva das taxas de juro da dívida pública. Abrem-se, assim, boas perspetivas de regresso
de Portugal aos mercados de financiamento externo no prazo previsto, um objetivo central do Programa com
vista a garantir a liquidez imprescindível à atividade económica e ao funcionamento do Estado.
Dois anos decorridos sobre a concretização do Programa de Assistência Financeira, o reconhecimento
objetivo de aspetos positivos não nos deve desviar a atenção do problema mais dramático que Portugal
enfrenta: o agravamento do desemprego e o aumento do risco de pobreza, em resultado de uma recessão
económica cuja dimensão ultrapassa, em muito, as previsões iniciais.
O combate ao desemprego deve ser uma prioridade da ação governativa. Esta destruição de capital
humano coloca graves problemas pessoais, familiares e sociais, tendo ainda um impacto muito negativo sobre
o crescimento potencial da nossa economia.