I SÉRIE — NÚMERO 89
8
Ora, um Governo assim só pode ser um Governo cego e que não ouve, ou que se recusa a ouvir. Um
Governo cuja orientação política é: «bola para a frente e seja o que Deus quiser.» Um Governo possuído pelo
desnorte ao ponto de já ninguém perceber muito bem quem é que, de facto, manda neste Governo em pré-
reforma, porque o desnorte tomou conta do Governo. Falta rumo a este Governo sem norte e sem liderança.
Ainda ontem o Secretário de Estado da Administração Pública veio dizer que o Governo assume pretender
fazer despedimentos na função pública e, duas horas depois, veio dar o dito por não dito e dizer que, afinal, o
Governo não pretende despedir funcionários públicos. É o desnorte a reinar no seio do Governo.
O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros diz que a taxa sobre as pensões não passará. «É a
fronteira que não posso deixar passar e é do conhecimento do Primeiro-Ministro», diz o Ministro de Estado,
Paulo Potas, mas, pelos vistos, essa taxa foi aprovada em Conselho de Ministros. É o desnorte no reino da
coligação!
Depois, vem um vice-presidente da bancada do PSD reconhecer agora que o Ministro das Finanças não
pensa nas pessoas, que é um Ministro tecnocrata e despojado de visão politica. Diz que o tempo político de
Vítor Gaspar terminou, que não é a pessoa indicada para dar esperança a Portugal e aos portugueses. Bem-
vindo ao clube, Sr. Deputado! É o desnorte a reinar no principal partido da coligação.
O que nos vais valendo não é apenas a Nossa Senhora de Fátima, é também um Primeiro-Ministro que
consegue extrair conclusões altamente elaboradas e profundamente refletidas para dizer que «o programa de
austeridade não implica, fora da esfera pública, consequências diretas para os cidadãos». Portanto, ficamos
assim sossegados nos dois planos: no divino e no da terra.
Sucede que a verdade é outra. A verdade é que os reformados têm sido severamente penalizados, e
estamos a falar de pessoas que não têm outra alternativa, nem sequer podem sonhar em voltar ao mercado
de trabalho.
Como diz o Presidente da República — sim, porque às vezes, não muitas, é verdade, também diz coisas —
: «Há limites de dignidade que não podem ser ultrapassados.»
Agora, dizemos nós: vivemos uma verdadeira desgraça social, com os números do desemprego que
envergonham o Governo, com um universo assustador de desempregados que não têm qualquer apoio social
e com milhares de reformados a viverem abaixo do limiar da pobreza. E, perante isto, o Governo ainda quer
impor novas reduções no pobre poder de compra dos reformados. Não pode ser. É uma vergonha!
Um Governo que não consegue respeitar os compromissos com as pessoas, que não tem palavra,
sobretudo para com os reformados, é um Governo que já há muito deveria estar na reforma. E se quem pode
passar o Governo à reforma não o faz, aqui fica uma sugestão: o Governo que meta os papéis para a reforma,
porque é a única maneira de garantir a reforma aos portugueses que andaram uma vida a descontar.
Aplausos de Os Ve3rdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do PS.
Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Laranjeiro.
O Sr. Miguel Laranjeiro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, o Sr. Ministro Mota Soares não
respondeu à pergunta que aqui foi colocada pelo Partido Socialista e pelo líder parlamentar.
Antes de mais, vou desmistificar algo que aqui disse no início da sua intervenção, relativamente ao
descongelamento das pensões mínimas. Chega, Sr. Ministro! Vou ler-lhe o Memorando inicial: «Manter a
suspensão, exceto no que se refere às pensões mais reduzidas» — ponto 1.29, alínea 9.
Aplausos do PS.
Fica esclarecido relativamente a esta matéria, porque também teria de explicar por que é que cortou no
complemento solidário para idosos e nas pensões de todos os reformados.
Mas voltemos à questão do debate, à qual não respondeu. A questão é simples, Sr. Ministro: vai ou não
haver uma nova taxa sobre a pensão de todos os portugueses?
Estamos a falar de portugueses que descontaram toda a sua vida, e o Governo esquece isso. Estamos a
falar de portugueses que descontaram o que foi exigido pelo Estado, e o Governo esquece isso. Estamos a