I SÉRIE — NÚMERO 89
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Mas vamos ao ataque aos reformados, vamos ao cisma grisalho, nas palavras o Ministro Paulo Portas. É
verdade que o corte retroativo nas pensões não lembra ao diabo, é uma injustiça, é inconstitucional e vamos
lutar com todas as nossas forças para que não seja uma realidade.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — As pessoas descontaram, viram as suas reformas calculadas conforme as
regras que lhes foram atribuídas pelo próprio Estado,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — … e, portanto, não há qualquer tipo de legitimidade para, agora, fazer um
recálculo e cortar aquilo que é a reforma atribuída. Isso viola a confiança depositada no próprio Estado e é um
desastre social que merece o nosso veemente combate.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Mas o cisma grisalho, Sr. Ministro e Srs. Deputados, não fica por aqui!
Quem ouve o Sr. Ministro Mota Soares parece que vivemos num mundo cor-de-rosa no que respeita aos
reformados e não é verdade. As reformas não acompanham o aumento do custo de vida. Hoje, os reformados
vivem pior, há cada vez mais reformados que não conseguem pagar a eletricidade ou o gás. As reformas
mínimas foram aumentadas uns miseráveis 10 ou 16 cêntimos por dia, o que não chega para o aumento do
custo de vida. O roubo do subsídio de férias e de natal aos reformados não é cisma grisalho, pergunta-se?
Claro que é!
E a lei de despejos da Ministra do CDS-PP, Assunção Cristas, que mais não é do que um instrumento de
causar terror relativamente aos reformados, aos mais idosos, com o perigo de despejo ou com o perigo do
aumento brutal das rendas dos reformados,….
Vozes do PCP: — Muito bem! Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — … não é cisma grisalho, Srs. Deputados? É óbvio que é!
Mas, mais: além da alteração da forma de cálculo e do corte retroativo das pensões, há outras medidas
neste pacote que também têm de ser aqui escrutinadas. A alteração de fator de sustentabilidade, com o
aumento da idade da reforma de todos os trabalhadores portugueses para os 66 anos de idade, e a dita
convergência entre os sistemas da Caixa Geral de Aposentações e segurança social, não é cisma grisalho?
Não é perseguição aos reformados? Claro que é!
A verdade, e esta é a questão verdadeiramente central, é que o PSD e o CDS-PP atacam os mesmos do
costume, os trabalhadores e os reformados, para não tocar nos grandes grupos económicos.
A verdade é que o PS cai na armadilha e diz que é injusto, é injusto atacar os reformados e os
trabalhadores. Mas qual é a alternativa que apresenta? Por que é que o Governo insiste neste caminho e não
ataca os interesses instalados, que são verdadeiramente ilegítimos? Aí ninguém toca, nem PS, nem PSD, nem
CDS-PP! Porquê?
Para o PCP, o importante é atacar onde, efetivamente, é possível. As gorduras do Estado não são os
reformados, não são os trabalhadores.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Essas não são as gorduras do Estado! As gorduras do Estado são as
PPP multimilionárias, que continuam a sugar avultadas verbas do nosso Orçamento do Estado para meia
dúzia de grupos económicos.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!