I SÉRIE — NÚMERO 103
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O que aqui elenquei são situações de verdadeiro desnorte, uma espécie de saga contra determinados
aspetos particulares que estão demonstrados. Por exemplo, no caso da greve, o Sr. Deputado acha que,
porque há opiniões, que são aquelas que cada um tem direito a ter, o Partido Socialista não tem opinião? Está
enganado! No dia em que o Partido Socialista for contra alguma greve é contra o seu próprio património
genético, contra a sua própria natureza.
Aplausos do PS.
Não é isso que está em jogo. A greve é um direito absolutamente sagrado, corresponde a um crescimento
civilizacional da nossa organização de sociedade que também o PSD não deveria sequer colocar em crise.
E veja bem que no caso concreto, quem perturbou toda a organização dos exames não foram os
professores, com a marcação da greve, porque desde muito cedo se soube que era possível, viável, desejável
e eu diria até obrigatório, que o Governo tomasse conta da ocorrência, que não tomou, e mudasse a data dos
exames para impedir a perturbação.
Aliás, o Sr. Deputado não ouviu com atenção os próprios, que disseram com clareza que deram
oportunidade ao Governo de o poder fazer, e sempre disseram, e é esse enunciado que eu sigo de boa fé, que
nunca foi anunciada greve contra os exames. Quem tentou fazer com que a greve fosse contra os exames, por
uma posição de obstinação e de arrogância, foi o Governo, que não soube compreender e mudar a data, isso
sim, para que os exames pudessem correr com normalidade, como, aliás, seria desejável em todo o momento.
Sr. Presidente, termino lembrando apenas ao Sr. Deputado que um apoio político tem de ter razões
substanciais para poder ser proporcionado a um governo e o senhor hoje, como se viu, não encontrou
nenhuma razão substantiva para continuar a apoiar este Governo convictamente.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena
Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Braga, ouvi a sua intervenção, o
diagnóstico e a análise que fez da situação que vivemos e do percurso deste Governo.
Digo-lhe desde já e com toda a franqueza que acompanhamos muitos dos aspetos que enunciou e parte da
análise que fez sobre a atual situação.
Mas, Sr. Deputado, permita-me que introduza três questões sobre as quais gostaria de ter o seu
comentário e, através de si, a posição do Partido Socialista. A primeira questão prende-se com os adjetivos
que encontrou para caraterizar o comportamento do Governo.
O senhor disse que o Governo perdeu o equilíbrio, que o Governo está num desnorte, que só tem olhos
para a austeridade, mas Sr. Deputado veja se não me acompanha também noutra caraterização do
comportamento deste Governo.
Este Governo, para além de tudo isso, também assume atitudes autoritárias e essas atitudes autoritárias
estão a ser extremamente preocupantes inclusive para o funcionamento da democracia, porque autoritarismo
e democracia não jogam entre si.
Veja-se o caso do exemplo da greve dos professores. O Ministro Nuno Crato tomou posições irredutíveis
em relação a uma justa luta dos professores. E, Sr. Deputado, tenho de fazer aqui um parênteses, porque teria
sido bom que tivesse sido apoiada por todos com clareza, desde o início, porque era uma luta em defesa dos
postos de trabalho mas também em defesa da escola pública — era, e é, uma luta muito justa.
E o Ministro disse o quê? Há uma decisão do tribunal arbitral que não está conforme as suas necessidades
e ele diz que não a respeita; a seguir, se vem outra decisão, é o próprio Primeiro-Ministro, aqui, que diz que
vai alterar a lei da greve.
Sr. Deputado, em que lado é que vai ficar o Partido Socialista? Vamos estar todos contra a alteração da lei
da greve e esta resposta vingativa do Governo, contra esta prepotência e autoritarismo da maioria?
Sr. Deputado, para terminar, ainda uma outra questão: o Sr. Deputado também falou sobre as questões
económicas, a crise económica profunda que o País atravessa e as medidas previstas no Orçamento