I SÉRIE — NÚMERO 103
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Por isso mesmo, daqui saudamos, com uma imensa confiança, a luta de todos e de cada um dos
professores e professoras, que, perdendo um dia de salário, se organizaram e mobilizaram, juntando forças na
defesa da escola pública de qualidade para todos.
Esta greve de 17 de junho, travada com uma imensa coragem pelos professores portugueses, foi ainda
mais importante, porque representou uma sólida expressão da unidade dos professores contra um Governo
chantagista, irredutível e intransigente.
É curioso que nunca tenhamos ouvido o Ministro Paulo Portas em conferências de imprensa no domingo, à
hora do almoço, a anunciar o aumento dos manuais escolares em 2,6%, ou a anunciar o fim do passe escolar
para os estudantes entre os 4 e os 23 anos, ou a anunciar o fim de terapias e apoios a alunos com
necessidades especiais, ou a fazer um balanço do despedimento de 14 500 professores contratados, que
tanta falta fazem à escola pública.
É também curioso que o Primeiro-Ministro, que se diz agora tão preocupado com os jovens e as suas
famílias, não esteja nada preocupado quando força milhares de jovens a abandonarem o seu País e a
emigrarem para fugirem à miséria e ao desemprego.
Não é nada curioso, é inclusivamente revelador, que o Presidente da República, conhecido pelos seus
silêncios ensurdecedores, que nunca teve uma palavra para dizer sobre o drama de milhares de alunos
forçados a abandonar os estudos e sobre a justa luta dos professores, tenha vindo contribuir para o clima de
pressão e chantagem. Hipocrisia política, pura hipocrisia política.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputados: 95% de adesão à greve das avaliações e 90%
registados no dia de ontem são reveladores da determinação dos professores e provam que o Governo
apenas permitiu o funcionamento de muitas salas de exame através da adoção de um conjunto de
ilegalidades, irregularidades e arbitrariedades.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Fora da lei!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sabe bem o Governo que a luta dos professores não é contra os estudantes, é
contra a política da troica de destruição da escola pública de qualidade, é contra os despedimentos, é pela
dignidade e pelo respeito que merece e exige a profissão docente.
Podemos mesmo dizer que esta luta é também em defesa dos estudantes e dos seus direitos, é pela
defesa do seu futuro, numa escola que assegure a formação da cultura integral do indivíduo, numa escola que
assegure sempre a qualidade do processo de ensino/aprendizagem.
A dita preocupação do Governo sobre as consequências de um dia de luta dos professores é
desmascarada por 365 dias de imposição de medidas de degradação da qualidade do ensino: o aumento do
número de alunos por turma; a criação de mega-agrupamentos, que desumaniza os espaços e aumenta a
descoordenação pedagógica; a reorganização curricular para despedir milhares de professores; a exclusão de
alunos com necessidades especiais, cortando e retirando apoios materiais e humanos essenciais a estes
alunos.
Sr. Presidente, Sr. Deputados: A escola pública de qualidade para todos é uma das mais importantes
conquistas de Abril. A escola pública é um dos pilares estruturantes do regime democrático.
Não há democracia sem escola pública de qualidade e a degradação da escola pública significa a
degradação profunda do próprio regime democrático.
Os professores sabem disto, Srs. Deputados. E, por isso mesmo, a sua longa jornada de luta não
corresponde a nenhum desígnio corporativo. A luta histórica, travada em 2013, no século XXI, pelos
professores portugueses é uma luta em defesa do regime democrático e das suas conquistas.
A luta dos professores em defesa dos seus direitos é inseparável da luta pela qualidade da escola pública,
é inseparável da luta corajosa em defesa da democracia.
A luta dos professores não é contra os alunos, é contra a política deste Governo e da troica, em defesa do
emprego com direitos contra o desemprego; em defesa da dignidade contra o aumento do horário de trabalho,
em defesa da estabilidade e da continuidade pedagógica contra a mobilidade especial.