I SÉRIE — NÚMERO 103
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Da parte do PCP, defendemos intransigentemente o direito à greve. É até interessante perceber que para o
PSD, para o CDS e, designadamente, para o Governo as greves são sempre um direito, mas que nunca
deviam acontecer, porque quando há greves nunca deviam ter os seus efeitos.
Importa aqui dizer que foi o Governo que obrigou ao calendário da greve ao anunciar estas medidas nesta
fase final de ano letivo, criando um conjunto de dificuldades.
Importa também aproveitar esta oportunidade para mostrar como é que este Governo gosta de invocar o
cumprimento da lei, mas apenas das leis que lhe convém. No que trata ao cumprimento da lei,
designadamente da lei da greve, gostava de referir aqui um e-mail que recebemos de um pai. Diz-nos ele que,
no dia 14 de junho, quando chegou à escola do pré-escolar para ir buscar o seu filho, foi informado de que no
próximo dia 17 não haveria atividades letivas porque as educadoras estavam convocadas para fazerem
vigilância aos exames.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Uma vergonha!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Portanto, o que acontece na prática é que o Governo, perante uma adesão
significativa e, diria, mesmo histórica de determinação dos professores na luta pelos seus direitos e pela
escola pública de qualidade, recorre a todos os expedientes para impedir que a greve possa acontecer da
forma como estava prevista.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Por isso, o que aqui registamos é que o Governo, que anda sempre com a lei na
boca mas nunca cumpre a Constituição, quando não quer cumprir a lei, designadamente naquilo que está
previsto, invoca expedientes que entendemos que não ficam bem ao regime democrático. Mas este Governo,
naturalmente, pagará por eles.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda para pedir
esclarecimentos.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, o Governo diz: «Não há problema
nenhum. Não se aplicará a mobilidade especial, nem a reclassificação profissional, não haverá aumento de
horário, não se vai passar nada na educação» e recebe, em resposta, uma greve fortíssima dos professores,
com altíssimos níveis de adesão, acima de 90%, nos conselhos de avaliação e no exame de segunda-feira
passada.
O que é que se pode entender disso? O que se pode entender disso é que a esmagadora maioria dos
professores não acredita na palavra do Governo. Nem sequer na palavra do Primeiro-Ministro, que veio
garantir: «Não vai acontecer nada aos professores! Não se vai aplicar nada!»
O que ontem foi importante, e não apenas na defesa da dignidade dos professores, como também na
defesa da escola pública, na defesa do mínimo essencial a uma profissão estruturante para o futuro do País e
para o futuro da cidadania em Portugal, é que toda uma classe profissional disse: «Não, não acreditamos na
palavra do Primeiro-Ministro, não acreditamos na palavra do Ministro da Educação».
Portanto, rompeu-se uma legitimidade política, e o PSD hoje, aqui, não consegue sequer refletir sobre a
perda de legitimidade política que sofreu ao longo desta última semana e, em particular, na greve aos exames.
É que, utilizando e manipulando, com uma carga demagógica tremenda, a situação dos alunos e das
famílias, estabeleceu-se uma larga onda de solidariedade no País em relação aos professores, percebendo as
motivações da greve que estavam a fazer. E ao contrário das contas que o PSD e o CDS tinham feito, não
tivemos a hostilização nem o isolamento dos professores. Pelo contrário, tivemos até vozes bastante
autorizadas no campo da direita a reprovar a leviandade e a irresponsabilidade do Ministro, a
irresponsabilidade do Primeiro-Ministro e a forma como o PSD trata a sociedade e determinados corpos
profissionais, como os professores.