13 DE JULHO DE 2013
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, cumprimento-o pela sua
frontalidade.
Não estamos, de facto, a ver a situação da mesma maneira, porque o Sr. Deputado entende que, nestas
circunstâncias, a causa profunda da crise que vivemos resulta da execução do Memorando de Entendimento,
o Programa de Assistência Económica e Financeira, e eu, Sr. Deputado, estou convencido — e não estou
sozinho, não é uma obstinação minha — de que as causas profundas desta situação não estão no
Memorando, estão no que obrigou Portugal a ter Memorando. E o que obrigou Portugal a ter Memorando está
bem espelhado no facto histórico de, na nossa democracia, termos precisado ciclicamente de pedir ajuda
externa por não nos sabermos governar. É exatamente assim, Sr. Deputado!
Estivemos vezes de mais a fazer batota, a utilizar os instrumentos que tínhamos, o instrumento monetário e
cambial, para fazer de conta que éramos competitivos, a proteger grupos económicos…
Risos de Deputados do PCP.
Vozes do PCP: — E agora, não!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — … que não teriam sobrevivência se não estivessem na pendência do Estado.
Aplausos do Deputado do PCP Bruno Dias.
Foi isso que aconteceu, durante muitos anos, Sr. Deputado: uma economia protegida, sem concorrência,
um País voltado para si próprio.
O Sr. Honório Novo (PCP): — É verdade, é mesmo por causa deles que estamos assim! E tem alguns aí,
nessa bancada!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Um País, Sr. Deputado, que não conseguiu, em todos estes anos, gerar uma
única vez um excedente do seu Orçamento, que não conseguiu, uma única vez, usar — perdoe-se-me a
expressão — o que pode resultar de «tempos de vacas gordas» para o «tempo de vacas magras».
Nunca soubemos amealhar alguma coisa para tempos menos favoráveis e sempre favorecemos o desafio,
mais do que provável, de termos um País com desequilíbrios profundos, seja internos seja externos, com a
injustiça que conhecemos de sermos um dos países da Europa em que a distribuição da riqueza é mais
injusta.
Sr. Deputado, isso não foi uma consequência do Programa de Assistência Económica e Financeira, isto é
uma consequência de muitos anos.
O Sr. António Filipe (PCP): — De PSD!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas, Sr. Deputado, estes muitos anos têm responsabilidades de muita gente
— não quero aqui agora falar disso. De muita gente! Julgo, Sr. Deputado, que nenhuma das formações que
aqui está isenta de responsabilidades.
O Sr. António Filipe (PCP): — Ah, a culpa é nossa?!…
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Fale por si!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas, Sr. Deputado, não é isso, como dizia, que interessa mais. O que
interessa mais é corrigir essa situação.
O Programa de Assistência Económica e Financeira não é um milagre para Portugal, mas não é uma
agressão, Sr. Deputado. Fomos nós que o pedimos.
Protestos do PCP e do BE.