I SÉRIE — NÚMERO 113
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Portanto, Sr. Primeiro-Ministro, estabelecida a conjuntura e elencado um conjunto de factos que nos
parecem relevantes, gostaria de obter da sua parte, um comentário sobre a avaliação que faz desses mesmos
factos e, ao mesmo tempo, sobre a disponibilidade do Governo para dar consistência real, concreta, palpável e
visível a este mesmo diálogo, que se exige e sobre o qual todos parecem estar de acordo, mas em relação ao
qual, neste momento, é preciso estar à altura do desafio. Importa dialogar consequentemente, de forma
autêntica e consciente não do País que todos gostaríamos de ter, e de ter encontrado, mas do País que,
infelizmente, temos, em que estamos e que está ainda sob fortes restrições e assistência financeira.
Era esta avaliação e este comentário que queria obter da parte do Sr. Primeiro-Ministro.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Nuno Magalhães, como referiu, e bem, tive
oportunidade de, com o líder do CDS-PP, chegar a um entendimento que reforça a coesão interna e política do
Governo e da maioria. Fizemo-lo num tempo politicamente intenso, mas, julgo eu, num tempo que o País
percebeu. Há coisas muito importantes que se podem perder de um dia para o outro, mas há outras que se
podem reganhar quando sabemos dar o tempo necessário a que se possam reconstruir. Fizemo-lo em menos
de três dias.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Foi importante que o Presidente da República pudesse saber que esta maioria
está coesa e é importante que o País saiba que, apesar das nossas diferenças, o Governo não deitará pela
janela fora tudo aquilo que os portugueses conseguiram nestes dois anos.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Tenho, portanto, a convicção de que este Governo estará pronto para lidar
com todas as adversidades futuras com a mesma dignidade e a mesma força com que lidou com as
adversidades que até hoje enfrentou.
Mas, Sr. Deputado, sobre isto, tenho também uma posição de humildade, porque o que se passou não
devia ter acontecido. Porém, aconteceu e, por isso, agora temos de demonstrar aos portugueses que não
voltará a acontecer. E isto precisa, evidentemente, de um amplo esforço de todos nós.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — No entanto, agora, e uma vez que dentro da coligação e do Governo a questão
está resolvida,…
O Sr. António Filipe (PCP): — Está?!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … é importante que possamos acrescentar aos portugueses, tanto quanto
possível, previsibilidade e confiança para o futuro. E um futuro que está para além da vida deste Governo
ganha com um entendimento alargado, pelo que vamos procurá-lo.
Foi justamente por isso — quero, desde já, dizê-lo — que entendi que não deveria fazer aprovar em
Conselho de Ministros alguns elementos importantes que estão prontos e respeitam à concretização de
medidas do programa de médio prazo que foi acertado com a troica para Portugal. Esses elementos estão
prontos para seguir para o Parlamento, tal como nos comprometemos, mas decidi, no entanto, que era preciso
preservar a boa fé. Não basta dizer que queremos chegar a um entendimento, é preciso dar sinais de que
estamos mesmo empenhados nisso e, se estamos mesmo empenhados nisso, então, não podemos
desenvolver uma política que possa ser entendida como de facto consumado.