I SÉRIE — NÚMERO 113
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palavra dada aos portugueses tem de valer alguma coisa, a palavra das pessoas que estão na política em
representação dos portugueses tem de valer alguma coisa.
Termino, Sr. Primeiro-Ministro, colocando um desafio e dando uma informação.
O desafio (talvez o transforme numa pergunta) é o seguinte: será que o Sr. Ministro de «não sei quê» —
não sei exatamente o que é, mas acho que ainda é Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros —, o Sr.
Ministro Paulo Portas, vai falar no decurso do debate, de modo a que o possamos confrontar com perguntas
diretas sobre a situação que estamos a viver, naturalmente porque representa o outro partido que está no
Governo?
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Termino já, Sr. Presidente.
Por último, Sr. Primeiro-Ministro, porque este Governo se revelou um problema enormíssimo para o País,
fruto das políticas que tem implementado, porque este Governo apodreceu a vida política em Portugal e
porque este Governo acabou, Os Verdes apresentarão, no início da próxima semana, uma moção de censura
ao Governo,…
Vozes do PSD: — Oh!…
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … que será discutida neste Parlamento, um Parlamento cuja
maioria não representa mais a população portuguesa!
Aplausos do Deputado de Os Verdes José Luís Ferreira e do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, a história não é sempre a
mesma. De facto, não é sempre a mesma.
O Primeiro-Ministro tem a responsabilidade de não afundar expectativas no País quando não tem razões
para isso. Portanto, como Primeiro-Ministro, mesmo correndo alguns riscos, não posso deixar de incentivar o
País para as coisas positivas e para os sinais positivos que temos no nosso horizonte. Julgo que é essa a
minha obrigação, até porque a obrigação de todos nós é valorizar o que de positivo conseguimos no País. Não
é desvalorizar ou relativizar ou amesquinhar, é valorizar o que temos de positivo.
Criou-se este vício, o de tradicionalmente os Governos valorizarem os aspetos positivos e a oposição
destacar o que é negativo. Mas não tem de ser sempre assim. A Sr.ª Deputada poderia quebrar um pouco
este enguiço e, de vez em quando, contrariar esta pecha — e isso, sim, os portugueses valorizariam — que
temos na nossa democracia, que é a de ter a oposição sempre a dizer mal de tudo.
Vozes do PCP: — Não há nada para dizer bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Assim, a Sr.ª Deputada, hoje, no debate sobre o estado da Nação, também
teria uma boa oportunidade de poder dizer bem de alguma coisa.
O sinal que eu hoje quis aqui valorizar é um sinal positivo. Mas há um aspeto que é relevante, e é por isso
que devemos valorizar os sinais positivos: é que eles são obtidos em contexto desfavorável. Repare, Sr.ª
Deputada, que, há dois anos, a perspetiva não era a de ter, no contexto europeu, um ambiente recessivo.
Portanto, era natural que houvesse a expectativa de que o motor das exportações pudesse ter, num País que
exporta maioritariamente para a Europa, um crescimento, induzido pela procura externa, mais forte, que nos
pudesse ajudar a amortecer mais o efeito da política restritiva que temos de realizar no plano interno.
Mas o contexto europeu não evolui apenas de acordo com a nossa vontade. Foi adverso. E conseguirmos
estes resultados, apesar dessas adversidades, dá mais valor a esses resultados, Sr.ª Deputada — e é isso
que tenho de enfatizar.