I SÉRIE — NÚMERO 117
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permita-me a observação —, a crítica ao Governo. Na altura, foi-lhe respondido que o Governo manteria, no
essencial, a direção que tinha tomado no que respeita ao cumprimento de obrigações externas. E quero
reafirmá-lo, Sr. Deputado, como o fiz há pouco da tribuna.
Não há nenhum novo ciclo que se possa abrir em Portugal que dê sustentabilidade ao País que possa
esquecer a disciplina das contas públicas. Nenhum, Sr. Deputado.
A ideia que está subjacente às perguntas que o Sr. Deputado me faz — «Vai aumentar as pensões?», «Vai
aumentar o salário mínimo?», «Vai aumentar a despesa pública?»… Sr. Deputado, não. Nós não podemos
aumentar a despesa pública, nós vamos fazer o contrário, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — E o Banif?
O Sr. Primeiro-Ministro: — Manteremos o objetivo que temos, que é o de reduzir o peso, em percentagem
da riqueza que é criada no País, da despesa corrente primária. E digo-lhe que é em percentagem da despesa
corrente primária porque temos de pagar os juros se queremos ter dinheiro. Se não queremos ter dinheiro não
pagamos, mas se queremos ter financiamento para a economia temos de pagar os juros dos empréstimos.
Nessa medida, Sr. Deputado, não podemos ignorar a realidade: as nossas despesas terão de estar de acordo
com a nossa disponibilidade para pagar.
O Sr. João Oliveira (PCP): — E o Banif?
O Sr. Primeiro-Ministro: — Por isso, o novo ciclo que o País pode vir a conhecer em termos económicos
não pode senão assentar na reafirmação do nosso compromisso com a estabilidade financeira e com a
consolidação das contas públicas.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — É vira o disco e toca o mesmo!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas, Sr. Deputado, é possível fazer mais do que isso. Como afirmei no debate
da moção de censura e reafirmo hoje, se não podemos fazer tudo ao mesmo tempo e resolver todos os
problemas de uma vez, é verdade que passámos dois anos a tratar de problemas de emergência financeira e
que agora, sem esquecer a disciplina financeira, podemos apostar mais nas condições de recuperação
económica.
No entanto, para o fazer, Sr. Deputado — recordo-me, até, de ter citado a Sr.ª Ministra de Estado e das
Finanças a esse propósito —, não precisamos de insistir na dualidade entre crescimento e austeridade, porque
a ideia não é a da alternativa que se coloca entre uma coisa e a outra, mas sim a de observarmos a nova
realidade em que vivemos.
Portanto, Sr. Deputado, não é possível voltar para trás. Não, Sr. Deputado, não é possível recriar o peso da
despesa que o Estado já teve e não, Sr. Deputado, nós não podemos continuar eternamente a resolver os
problemas do excesso de despesa do Estado onerando os portugueses com mais impostos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Mas os do Banif estão a salvo!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, Sr. Deputado, a resposta à sua pergunta é simples: nós vamos
conseguir reduzir estruturalmente a despesa do Estado exatamente nos termos a que nos propusemos e que
são do domínio público. Numa carta que eu próprio assinei, como Primeiro-Ministro, para os nossos credores
oficiais vem lá bem descrito, Sr. Deputado, de que forma é que nós pensamos fazer a redução estrutural da
despesa pública até 2015.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedirem esclarecimentos, estão ainda inscritos, pelo PS, o Sr. Deputado Rui
Jorge Santos, pelo PCP, o Sr. Deputado Miguel Tiago e, pelo BE, a Sr.ª Deputada Ana Drago.
O Sr. Primeiro-Ministro informou que responderá em conjunto a estes Srs. Deputados.