I SÉRIE — NÚMERO 117
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O Sr. Bernardino Soares (PC): — Até anunciou uma moção de confiança!
O Sr. Primeiro-Ministro: — O que quero dizer ao Sr. Deputado é que não creio que alguém tenha
assinalado que, durante o tempo que vivemos, a Constituição não tenha sido respeitada.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Perante a degradação das instituições, não!
O Sr. Primeiro-Ministro: — E isso, Sr. Deputado, é muito importante para que as pessoas sintam no
sistema democrático a confiança necessária para poder distinguir o que são diferenças políticas e de opinião
daquilo que são as regras pelas quais nos devemos conduzir.
E, Sr. Deputado, quando as regras da soberania democrática são respeitadas, podemos ter opiniões
diferentes, mas não podemos colocar-nos à margem do sistema de regras que temos. Nós temo-las
respeitado todos, em conjunto, e isso é importante anotar, Sr. Deputado.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — As do Tribunal Constitucional não!
O Sr. Primeiro-Ministro: — O segundo aspeto, Sr. Deputado, tem a ver com a questão do espírito de
servo.
Sr. Deputado, para que fique bem registado, ninguém neste Governo tem um espírito de servo, mas
estamos muito determinados em mostrar que sabemos resolver os nossos problemas. É isso que estamos a
fazer, não ignorando a realidade e as restrições, e isso tem envolvido escolhas que são muito difíceis — não
tenho dúvidas disso, nós sentimo-lo.
Aliás, já referi mais do que uma vez, até dentro da própria maioria, que temos tido oportunidade de
recentrar as nossas discussões em torno de problemas que são importantes, mas, Sr. Deputado, até hoje,
temos conseguido ultrapassar essas divisões, essas divergências, essas diferenças de opinião. Porquê?
Porque estamos convencidos de que, no essencial, o País não nos perdoaria se não nos soubéssemos
colocar de acordo quanto àquilo que é essencial.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — E hoje o País não tem dúvidas de que, se falharmos no objetivo de cumprir o
programa de assistência, o que nos espera é muito pior, Sr. Deputado.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Essa é a realidade, Sr. Deputado.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Por isso, tenho manifestado, reiteradamente, a determinação para fecharmos esse período e podermos
reganhar alguma da nossa autonomia e soberania para encontrar respostas melhores para futuro.
É isso que faremos, Sr. Deputado, sem chantagem, sem resignação e sem medo, mas com coragem e com
esperança para Portugal.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, esta moção de confiança tem duas
particularidades: a primeira é a de que é para a fotografia, pois dela não resultará nada de novo; em segundo
lugar, é apresentada a pedido do Presidente da República.