26 DE OUTUBRO DE 2013
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O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins para uma
intervenção.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda congratula o
PCP pela iniciativa de trazer a debate a criação do arquivo nacional sonoro. Há questões sobre o arquivo e o
património que têm sido constantemente adiadas e, a nosso ver, é grave que assim seja.
Existe já uma lei de bases do património, a qual exige que o património móvel seja também conservado
nas suas várias formas. E se é verdade que temos arquivo nacional para documentos escritos, seja na Torre
do Tombo seja na Biblioteca Nacional de Portugal, se é verdade que temos também um arquivo que vem já da
evolução tecnológica do século XX, o ANIM, que responde à necessidade do arquivo do audiovisual, no que
diz respeito ao som aquilo que estamos a fazer é a atacar o nosso próprio direito à memória e a atacar o
direito das gerações futuras a conhecerem o que foi feito.
Se é verdade que quando pensamos na música portuguesa, sabemos que é pela escrita que nos chegam
compositores como João Domingos Bomtempo, se é certo que gerações receberam já em áudio arquivos ou
recolhas, como aqui foram citadas, de Giacometti, nós, que recebemos Lopes Graça, Carlos Paredes, Amália,
Zeca Afonso, nós, que temos hoje criadores e produção musical tão diversa, em domínios tão amplos, que
fazem aquilo que nós somos — pensemos em Emmanuel Nunes, nos Xutos & Pontapés, nos Chullage, na
Aldina Duarte, em todas as áreas —, o que estamos a dizer é que o nosso País não tem nem meios de
preservar o que foi feito do ponto de vista sonoro nem meios de preservar o que está hoje a ser feito para que
as gerações futuras conheçam. Isso é algo que não temos direito de fazer. É nossa obrigação ter esse
património e fazer com que próximas gerações o possam conhecer.
Há coleções individuais, há arquivos parciais em todas as áreas, há bibliotecas — no cinema, por exemplo,
há grandes arquivos individualizados —, mas só um arquivo nacional pode corresponder a essa exigência de
tratar aquilo que somos, o nosso património como ele pode ser tratado.
Sr.as
e Srs. Deputados, a questão da criação de um arquivo fonográfico não é nova, tem constado de todos
os programas do Governo ao longo dos últimos anos mas nunca foi para a frente. Portanto, é altura de a
Assembleia da República criar esse arquivo. Fazer, como propõe a direita, um estudo sobre se é necessário?!
Sinceramente, é mesmo preciso saber se é necessário preservarmos o nosso património fonográfico?! É
mesmo preciso estudar sobre esta necessidade? Não sei se sabem, mas é uma inovação ideológica já com
mais de 100 anos! É natural que esteja na altura de se criar um arquivo!…
Portanto, Sr.as
e Srs. Deputados, deixemo-nos de empurrar os problemas com a barriga e assumamos as
nossas responsabilidades. Há hoje um projeto de lei em debate que cria um arquivo sonoro. É esse que deve
ser aprovado, para que o arquivo sonoro exista e para que estejamos à altura das nossas responsabilidades.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago para uma intervenção.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Enquanto falamos e enquanto o PSD e o
CDS tentam fingir que o Governo vai resolver este problema, a música e o som portugueses do passado, e
mesmo algum do presente, estão a perder-se no ar para sempre, porque não fica registo, porque não fica
inventário.
Srs. Deputados, aproveito só para dizer que se fosse verdade que o PS, o PSD e o CDS estavam
disponíveis para fazer um arquivo, apesar de não estarem de acordo com a forma que o PCP lhe atribui, que é
a de instituto público, mas integrado num outro, por exemplo, no Museu da Música, bastava alterar apenas três
palavras neste projeto de lei. Era um trabalho de especialidade muito denso, Srs. Deputados!… Se fosse essa
a intenção destes partidos, ficava claro que poderíamos baixar este projeto à especialidade para tratar da
alteração.
Sr.ª Deputada do Partido Socialista, estranhamos a sua posição e a da sua bancada, na medida em que o
programa eleitoral do Partido Socialista, nas duas últimas vezes que se candidatou a eleições, contou, pelo
menos nas duas últimas vezes que se candidatou a eleições, com a criação deste arquivo sonoro.