26 DE OUTUBRO DE 2013
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investimento público pela simples razão de que, rapidamente, seria invocada a excecionalidade pelo facto de
serem instituições com peso na estabilidade do sistema financeiro nacional — uma vez mais, a mesma
desculpa utilizada para a chamada «nacionalização do BPN».
Em 2012 e em 2013, o Estado português acorreu a capitalizar a banca, em 4500 milhões de euros para o
BCP e para o BPI e mais 1100 milhões de euros para o Banif. Até agora, o Estado despendeu 9000 milhões
de euros para processos de recapitalização e para cobrir os custos dos ativos tóxicos do BPN. Só em 2012, o
Estado gastou mais a recapitalizar bancos do que no funcionamento de todo o ensino básico e secundário
(incluindo salários de professores e funcionários) e seis a sete vezes mais do que gasta, num ano, em ação
social escolar no ensino superior. São meros exemplos.
Esta situação não pode continuar, com mais ou com menos regulamentação. A solução não é saber o que
exige o Estado à banca para a recapitalizar com recursos do povo, a solução é parar de o fazer.
Esta proposta de lei anuncia-se, como já foi referido pela Sr.ª Ministra, no seguimento de uma comunicação
da Comissão Europeia. Na mesma altura em que a Comissão Europeia quer impedir que os Estados apoiem a
produção cultural porque entende que apoiar a produção cultural é uma distorção nos mecanismos da livre
concorrência, a mesma Comissão não só permite como estimula e encoraja o apoio direto dos Estados aos
acionistas da banca.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Muito bem!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Numa altura em que, a pretexto do défice, da dívida, da ocupação
estrangeira pela troica, surgem constantes apelos ao rigor, à contenção e à austeridade, como é possível
permitir que a banca, com mais ou menos condições, possa ser capitalizada com recurso a financiamento
público? Como é possível que a disciplina e o rigor não se estendam à relação do Estado com a banca? A
banca desempenha um papel demasiado importante para que possa estar confiada a privados. A história
prova-o e a situação nacional comprova-o!
Parafraseando um ditado, «o Estado pode tirar a banca privada da lama, mas não pode tirar a lama da
banca privada».
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Santos Silva.
O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Sr.ª Presidente da Assembleia da República, Srs. Membros do
Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: No momento particularmente difícil que a Europa, em geral, e Portugal, em
particular, atravessam, a solidez das suas instituições financeiras é claramente um fator crítico que pode
alavancar ou condicionar fortemente a trajetória de crescimento económico que todos almejamos.
Este novo modelo foi gizado com o intuito de credibilizar as instituições financeiras, através do
fortalecimento dos seus indicadores de solvabilidade, que, em última instância, prossegue a defesa dos
contribuintes e contribui de forma decisiva para a segurança dos depositantes, não perdendo de vista a defesa
do interesse público.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — A alteração do modelo de governança europeu ao nível das
instituições financeiras levantou novos desafios que as autoridades nacionais não escamotearam.
Num primeiro momento, em que a estabilidade da zona euro estava diariamente a ser posta em causa, foi
necessária a criação de mecanismos de estabilização que blindassem de forma absoluta os diversos sistemas
financeiros nacionais, objeto, então, de fortes ataques por parte de especuladores internacionais.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Bem lembrado!