I SÉRIE — NÚMERO 15
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O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — É inegável que a principal consequência desse primeiro momento da
crise foram sérias restrições que se colocaram no acesso ao crédito por parte das empresas,
fundamentalmente das pequenas e médias empresas.
Encontramo-nos hoje perante um conjunto de novos desafios que importa abordar com cautela, mas, acima
de tudo, com determinação.
O diploma que ora discutimos referencia-se claramente nestes novos desafios que a Europa e cada um dos
seus Estados-membros têm de enfrentar.
Sr.as
e Srs. Deputados, os tão famosos bailouts, que inúmeros países europeus efetuaram a diversas
instituições financeiras, foram executados, em primeira instância, com recurso a capitais privados de
acionistas, mas, tendo-se essas fontes privadas revelado insuficientes, atuaram mecanismos públicos de
capitalização, o chamado «dinheiro dos contribuintes». No entanto, devo salientar e reforçar que, ao contrário
do que por aí se diz, isso sucedeu «com custos financeiros extremamente elevados para os bancos que a
esses dinheiros públicos recorreram», designadamente taxas de juro na ordem dos 8%.
Também em Portugal este facto foi uma realidade.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Bem lembrado!
O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — As exigências de capital impostas pela troica, assim como os testes
de stress impostos ao setor bancário pelo próprio Banco de Portugal, criaram condições para que a banca
portuguesa possa, com alguma serenidade, efetuar a transferência da supervisão para o Banco Central
Europeu, como está previsto para novembro de 2014, e possa dispor de folga para assumir novas exigências
de capital.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — O Banco de Portugal analisa, de forma criteriosa, trimestralmente, os
planos de financiamento dos bancos, tem vindo a impor inspeções regulares que têm resultado em registos de
imparidades e criação de provisões nos balanços dos bancos nacionais.
Sr. Deputado Pedro Nuno Santos, este novo enquadramento foi pensado, e bem, com o intuito de criar
regras claras e percetíveis para que exista uma verdadeira accountability pública em relação às verbas
despendidas num primeiro momento, para que o interesse público e a salvaguarda do dinheiro dos
contribuintes sejam reais e efetivos, num segundo momento, e para que os ativos problemáticos, já retirados
do balanço, não condicionem a capacidade de a banca financiar novos negócios com viabilidade, num terceiro
momento.
Sr.as
e Srs. Deputados, a partir do momento em que é o dinheiro de todos nós que é utilizado no esforço de
recapitalização deste setor, exige-se uma nova e reforçada responsabilização não só das autoridades
governamentais, mas também das administrações das instituições que recebem as ajudas.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — O Estado dá o dinheiro, mas não manda nada!
O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Neste momento crítico, importava dar um sinal claro ao povo
português de que todos têm de participar no combate a esta grave crise que ainda nos assola. Ninguém pode
ficar de fora dos esforços que, a nível nacional, estão a ser feitos para combater esta crise.
Neste aspeto, gostaria de saudar o esforço feito pelo Governo, apoiado por esta maioria, que estabeleceu
critérios e regras claras no que concerne à limitação salarial dos administradores bancários, em todas as
vertentes dos seus salários, bem como a criação do impedimento de distribuição de dividendos aos acionistas
durante o período de vigência do plano de recapitalização, afetando todos esses fundos ao desinvestimento
público.
Sr.as
e Srs. Deputados, considero que, para uma economia aberta e moderna, o papel de um banco central
forte e independente é crítico para a saúde e vitalidade da economia.