1 DE NOVEMBRO DE 2013
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O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Deputada, um Primeiro-Ministro tem a obrigação de ter os pés assentes
na terra e de ver a realidade: não há dinheiro para essa política!
Portanto, Sr.ª Deputada, os seus desejos é que se confundem com a realidade, é a Sr.ª Deputada, e não
eu, que tem um problema com a realidade.
Deixe-me dizer, a terminar, que as palavras que empregou, a propósito da estupidez e da má-fé são
palavras que não utilizo no debate parlamentar e que só desqualificam quem as profere.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima pergunta é de Os Verdes.
Sr. Deputado José Luís Ferreira, tem a palavra.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, na sua intervenção, o Sr.
Primeiro-Ministro sugere que este Orçamento do Estado representa um «momento de viragem», aliás, é uma
expressão que vem na sequência daquilo que o Governo tem dito ultimamente, pois fala, com alguma
insistência, num «momento de viragem» e alguns membros do Governo vão até mais longe e falam num
«milagre económico».
Aquilo que nos parece é que a referência a esse «momento de viragem» acaba por se reduzir apenas a um
pretexto para o aprofundamento das políticas que provocaram já números verdadeiramente assustadores, em
termos de desemprego, que empurraram para a emigração milhares e milhares de famílias, que colocaram a
fome e a miséria a bater à porta de muitas casas portuguesas, que levaram à destruição da nossa produção e
que engordaram a dívida para números insustentáveis.
Quando oiço o Governo falar desse putativo «momento de viragem», lembro-me que, há uns tempos, o Sr.
Primeiro-Ministro dizia que começava a ver luz ao fundo do túnel. Afinal, Sr. Primeiro-Ministro, parece que a
luz que se via ao fundo do túnel não era o fim do túnel, era a luz do comboio, que, ainda por cima, vinha em
sentido contrário. E a prova de que essa luz não era o fundo do túnel está aqui, Sr. Primeiro-Ministro, está
neste Orçamento do Estado.
É um Orçamento que prolonga o túnel da austeridade e da recessão, um Orçamento que assenta em
cortes, mas cortes num só sentido, o sentido do costume, ou seja, cortes nos salários de quem trabalha e
cortes nas prestações sociais, nas pensões de reforma e de sobrevivência, no subsídio de desemprego e de
doença, nas deduções ao IRS para os trabalhadores e pensionistas, e por aí fora.
É claro que estes cortes, a somarem-se aos cortes que já no ano passado eram provisórios, vão,
naturalmente, emagrecer, de forma drástica, o rendimento disponível das famílias, o que irá provocar uma
nova contração da procura interna.
Ora, se vamos ter uma nova contração da procura interna, significa que o objetivo que aponta para o
crescimento do PIB, em 0,8%, não é propriamente um objetivo, mas, sim, uma verdadeira miragem. E é uma
miragem, Sr. Primeiro-Ministro, porque estamos diante de um Orçamento que assenta no faz-de-conta.
Vejamos: com o forte emagrecimento do rendimento das famílias em 2014, agravado com mais um brutal
corte nos salários e nas pensões e com uma subida prevista na taxa de desemprego, como é possível esperar
uma melhoria no consumo privado?! Só fazendo de conta! E, então, fazemos de conta que o consumo privado
vai crescer.
Ora, como o consumo privado não vai crescer, a previsão do crescimento do PIB, em 0,8%, fica, assim,
dependente da procura externa.
Sucede que todos os dados, nomeadamente os do próprio FMI, que fez agora uma revisão em baixa do
crescimento mundial para 2014, face às estimativas anteriores, apontam para que as nossas exportações não
andem tão bem como o Governo espera. Ora, sendo assim, temos de fazer de conta que as exportações vão
aumentar substancialmente em 2014.
E o mesmo se diga relativamente ao desemprego. Sabemos que este Governo nunca olhou para este
flagelo social como uma prioridade a combater. Nunca em tão pouco tempo foram destruídos tantos postos de
trabalho como aqueles que este Governo destruiu. E o Governo prevê agora, neste Orçamento, que a taxa de