27 DE NOVEMBRO DE 2013
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para 2014. A maioria parlamentar PSD/CDS aprovará, isolada, este documento devastador. Eventualmente,
terão o desplante de aplaudir a aprovação de um dos instrumentos mais macabros para os portugueses e para
o País.
É o Orçamento da continuação do aumento brutal de impostos, da continuação da diminuição do subsídio
de desemprego e do subsídio de doença, do desavergonhado corte das pensões de sobrevivência, da
diminuição das reformas, do mais brutal saque aos salários.
É o Orçamento que, violando o princípio de que cada um deve contribuir em função dos rendimentos que
tem, trata os mais pobres como se fossem ricos e os mais ricos como se fossem pobres — em cortes salarias
e de pensões, saca mais de 2500 milhões de euros, mas ao setor energético, com lucros elevadíssimos
mesmo em período de crise, pede uma esmola de mais 100 milhões de euros.
É o Orçamento que, para injetar na banca, para pagar juros, para pagar parcerias público-privadas (PPP),
para pagar swaps, vai roubar aos trabalhadores com salários de 675 € brutos. Rouba aos pobres para dar aos
ricos. É a isto que o Governo chama de equidade!
Estamos perante um Governo que, a pretexto da crise, segue ávido a sua doutrina neoliberal, que tende a
transformar esta sociedade na lei da selva. Este Orçamento é prova disso, e prova adicional é o guião para a
reforma do Estado, entretanto apresentado pelo ex-irrevogavelmente-demissionário Ministro Paulo Portas,
entretanto promovido a Vice-Primeiro-Ministro, que demonstra a vontade de criar um Estado muito mínimo. E
se for conjugado com o programa de privatizações, que visa entregar quase todas as áreas aos privados,
desde empresas tão lucrativas como os CTT até setores tão estratégicos para o desenvolvimento como a
água, então o quadro está mais do que claro.
A pergunta que se impõe é esta: como é que se aguenta isto? As carteiras das famílias ficarão ainda mais
magras em 2014. O desemprego subirá. Mais jovens terão que optar entre a inatividade ou a emigração
forçada. Mais pessoas optarão por não ter filhos, porque não têm condições para os sustentar, num quadro em
que a baixa taxa de natalidade é assustadora. Mais pessoas irão buscar refeições às cantinas da caridade,
porque não têm como comprar comida suficiente para pôr no prato em casa. Mais idosos refletirão seriamente
se hão de gastar o seu magro dinheiro em comida ou em medicamentos, quando até o transporte para as
consultas lhes foi retirado. Este é o seu País real, Sr. Primeiro-Ministro! É este o País que o senhor está a
gerar! É o País dos absurdos!
O empobrecimento da generalidade dos portugueses é a marca deste Governo. E quanto mais pobres
forem os portugueses mais frágil será a nossa economia, porque mais estrangulado fica o nosso mercado
interno e mais dependentes nos tornaremos do exterior.
Neste Orçamento, os senhores tinham a possibilidade de, pelo menos, dar um sinal de quererem inverter o
ciclo de definhamento da economia, por exemplo através da emenda do erro que foi a subida do IVA na
restauração. Nem isso fizeram!… Cavalgam na austeridade, nas medidas recessivas, na dificuldade crescente
de gerar consistência económica neste País. E sem economia dinamizada não há método eficaz de
pagamento da dívida, porque não há criação de riqueza.
É curioso, Sr.as
e Srs. Deputados, remetermo-nos para alguns dos documentos saídos da Conferência do
Rio, em 1992, onde foram trabalhadas e acordadas linhas políticas orientadoras para o desenvolvimento
sustentável, com a experiência, na altura recente e remota, de países tão diversos. Encontram-se lá
determinações para que os países insustentavelmente endividados promovam renegociações da sua dívida
com os seus credores. É isto que nós propomos, o caminho para a sustentabilidade! E desses documentos
pode ainda aferir-se que, quando o pagamento obcecado da dívida destrói a economia, o caminho é
totalmente errado. É isso que nós dizemos, e é o que, infelizmente, se prova com o caminho imposto pelo
Governo.
Sr.as
e Srs. Deputados, em 2010, o PSD fazia uma propaganda louca pelo País, enrolado em propostas de
revisão da Constituição. Queria — afirmava Pedro Passos Coelho — apresentar, e nela inscrever, a sua
conceção de Estado. Pretendia chegar ao Governo e não ter o empecilho de uma Constituição democrática
que lhe travaria normas de dois Orçamentos do Estado e, muito provavelmente, de mais um terceiro — este
que hoje aqui vão aprovar!
Este Governo age contra a Constituição de uma forma despudorada, bate recordes de declarações de
inconstitucionalidade, mas procura sempre esticar mais e mais a corda. É por isso que daqui fazemos um
apelo direto ao Sr. Presidente da República para que requeira ao Tribunal Constitucional a apreciação