I SÉRIE — NÚMERO 21
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pensem os trabalhadores do privado que isto não lhes diz respeito. O sinal que o Governo deixa é claro: com
os funcionários públicos a trabalharem, desde agora, mais 3 horas por semana do que a média laboral no
privado, vai ser um passo até os patrões começarem a pressionar para subir o horário no comércio, indústria e
serviços.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Trabalhar mais horas com menos direitos, pagando mais pelos serviços públicos, em troca de um salário
cada vez menor, eis o resultado de quase três anos da direita em Portugal.
O Governo só não é austero na demagogia com que quer escamotear o óbvio. O falhanço das metas do
Memorando não é incompetência ou má vontade, mas uma política deliberada e consciente de reconfiguração
do contrato social existente.
É por isso que o Governo cavalga o discurso contra a Constituição e o Tribunal Constitucional, porque
sente que, sem o álibi da troica, tão cedo não terá outra oportunidade histórica para aplicar o seu Programa:
desregular o mercado de trabalho e fazer dos serviços públicos um entreposto para negócios privados
financiados com os nossos impostos. Era já esse o sentido da proposta apresentada em 2010 e rapidamente
escondida por Pedro Passos Coelho.
A sanha contra a Constituição não é inocente ou, sequer, um acaso. A Constituição é o entrave derradeiro
a este ajuste de contas da direita com a história.
Como também não é coincidência que o Governo, ou fontes anónimas que por si falem, culpem a
Constituição de tudo e mais um par de botas à medida que o Programa da troica se aproxima do fim. Porque
não apenas sentem que sem a mão amiga de Merkel e Durão Barroso dificilmente conseguirão reconfigurar o
contrato social defendido pela Constituição, como é preciso encontrar um bode expiatório para a colossal
destruição social destes três anos.
Apelar ao consenso, neste contexto, é o canto da sereia para enganar os tolos que se querem deixar
enganar. Apelar ao consenso, suportado no mata-borrão de Paulo Portas, que expressa uma ideia de
sociedade e de País altamente minoritária e que nunca foi sufragada é o conto da Carochinha. Não há
consenso possível na destruição do Estado social!
Protestos do Deputado do CDS-PP Artur Rêgo.
A ideologia do consenso, atirando para baixo do tapete os conteúdos sobre os quais esse suposto
consenso é construído, é a ideologia do poder do momento, mesmo quando este já perdeu, há muito, toda e
qualquer forma de legitimação.
Sr.as
e Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Um Governo que, perante a eminência do
desastre, não hesita em desagregar as instituições para esconder a sua incompetência e violência e que
acelera a desastrada política que reforçou a crise não merece confiança.
A questão é, afinal, simples: na reta final de um Programa que falhou todas as metas anunciadas e sem
qualquer legitimidade, resta ao Governo sair, demitir-se, para que, com eleições, se gere a legitimidade
necessária a um programa para o País, em nome das pessoas, para que, com renovada e reforçada
legitimidade interna e externa, se resgate o Estado e a economia da tirania da dívida e do diretório europeu.
Neste Orçamento, como sempre, o Bloco de Esquerda estará pela democracia e pelo Estado social.
Estaremos na defesa da Constituição em todas as convergências e não abdicando de todos os meios
institucionais e de mobilização social.
Protestos do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.
Mais deste Governo será sempre menos País. Mais austeridade resultará sempre em menos soberania e
em menos liberdade.
Fazemos uma escolha: votamos com o País, votamos contra o Orçamento.
Aplausos do BE.