I SÉRIE — NÚMERO 21
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preventiva da constitucionalidade deste Orçamento. O Sr. Presidente deve isso ao País, porque não pode
valer tudo a qualquer preço!
A chantagem do Governo, do FMI ou de Bruxelas em relação a segundos resgates não podem influenciar
os deveres constitucionais. De resto, que maior risco há para um segundo resgate senão a política recessiva e
de empobrecimento que o Governo protagoniza?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Mesmo para terminar, Sr.ª Presidente, uma constatação: o
Governo tem setores em peso contra as suas políticas — da educação à saúde, às finanças, aos transportes,
ao judicial, às forças de segurança. Tudo e todos a demonstrarem que estão fartos e que não aguentam
mais!… Lá fora, está uma multidão heterogénea a rejeitar este Orçamento do Estado! O País chumba lá fora o
que a maioria PSD/CDS aprova cá dentro. Estão divorciados da realidade!
Mas, Sr.as
e Srs. Deputados, há esperança no País quando o povo decide que basta!
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Concluída a intervenção de Os Verdes, passamos, agora, ao Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
O debate que aqui tivemos nos últimos dias não é o do Orçamento do Estado para o próximo ano mas, sim, o
debate do verdadeiro faz-de-conta em que se transformou a governação PSD/CDS.
Faz-de-conta — faz-de-conta que as contas batem certo; faz-de-conta que, depois de falhadas todas as
metas, a austeridade de 2014 vai funcionar onde falhou a de 2011, a de 2012 e a de 2013; faz-de-conta que,
cortando salários e pensões, o investimento vai florescer e o consumo disparar; faz-de-conta que o Governo
acredita no que está a dizer, porque, na verdade, é uma delegação de Berlim e de Bruxelas a fazer-de-conta
que é um Governo.
Vozes do CDS-PP: — Oh!…
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Desde o início do Programa da troica que todas as metas orçamentais —
repito, todas as metas — previstas pelo Executivo falharam.
Dizia o Memorando na sua versão original que o desemprego, em 2014, iria atingir os 12%, mas os
números oficiais dão-nos conta de 17,7% no final do mesmo ano, ou seja, mais 250 000 desempregados do
que o estimado no Memorando.
Dizia a troica que, em 2014, no final do programa de ajustamento, Portugal teria um crescimento de 2,5%,
uma previsão que é seis vezes superior à que a OCDE agora calcula.
Nestes três anos de devastação social, a dívida pública aumentou 20 000 milhões de euros acima das
previsões.
O Orçamento do Estado que é anunciado como sendo o último da troica é, pois, o momento para acertar as
contas.
Afinal, falhadas todas — repito, todas — as metas e promessas, o que é que ficou? Ficou um País mais
pobre e desigual, que milhares de trabalhadores qualificados e especializados estão a abandonar; um País
onde os mais jovens não têm lugar, onde 120 000 emigram a cada ano, meio milhão de exilados dentro de
portas, sem trabalho e sem escola; um País onde ter filhos é ser pobre, onde ser criança é um risco; um País
onde os mais velhos têm de escolher entre a refeição ou os medicamentos; um País de gente atirada para o
lado, depois de 20 ou 30 anos de trabalho, com o rótulo «desempregado de longa duração»; um País de gente
que empobrece mesmo quando trabalha, esmagada por precariedade, por salários de miséria; um País,
finalmente, que ficou precisamente o que a troica e a direita queriam que ficasse — Portugal, que já era o País
mais desigual da zona euro, reforça esta nada honrosa distinção.