I SÉRIE — NÚMERO 21
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Aplausos do PCP.
Enquanto 82% da consolidação orçamental é obtida à custa dos trabalhadores, dos reformados e dos
pensionistas, o esforço adicional exigido à banca e ao setor energético representa apenas 4% dessa
consolidação e não deixará de ser compensado com as prebendas com que a reforma do IRC se prepara para
agraciar os grandes grupos económicos.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Perante a enorme tragédia social que a sua política está a provocar, o
Governo e a maioria que aqui o suporta não têm outra desculpa que não seja o discurso da pesada herança
do Governo anterior, que entregou o País nas mãos da troica, tentando fazer esquecer as pesadas
responsabilidades que assumiram no passado, com as opções que subscreveram, com os Orçamentos que
viabilizaram, com os PEC que aprovaram e com o Memorando que também apoiaram.
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Nenhum dos três partidos que governaram o País nas últimas décadas
pode ser isento de responsabilidades pela grave crise em que o mergulharam, mas um Governo que se
prepara para fazer aprovar o seu terceiro Orçamento do Estado não pode apresentar-se perante esta
Assembleia e perante o País no papel da vítima indefesa, como se fosse inimputável, como se não tivesse
nenhuma responsabilidade no trágico agravamento das condições de vida de milhões de portugueses.
A Sr.ª RitaRato (PCP): — Exatamente!
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Esse verdadeiro pacto de agressão contra o nosso povo, que é o
Memorando da troica, nunca foi assinado para que o Estado português tivesse dinheiro para pagar salários e
pensões. Aliás, desde que o Memorando foi assinado, o que o Estado mais fez foi cortar salários, pensões e
prestações sociais.
A Sr.ª RitaRato (PCP): — Exatamente!
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — O Memorando foi assinado para que os bancos portugueses se pudessem
recapitalizar à custa dos sacrifícios impostos aos trabalhadores e aos reformados, para que os culpados da
crise pudessem beneficiar dela, para que os especuladores com a dívida pública pudessem receber até ao
último cêntimo o produto da sua agiotagem.
O Sr. JoãoOliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — O Memorando foi assinado para pôr em prática os planos da direita
portuguesa, da União Europeia e do FMI, de reconfigurar o Estado à medida dos interesses do grande capital,
à custa do empobrecimento dos trabalhadores e do desmantelamento das funções sociais do Estado.
Ao contrário do que afirma o Governo, não é este Orçamento que nos vai livrar da troica e que nos vai
devolver a soberania perdida. O artigo 239.º deste Orçamento consagra, sem margem para dúvidas, o
princípio da austeridade para além da troica. Com ou sem troica, a partir de junho de 2014, as medidas de
austeridade constantes do Memorando são para levar por diante até ao final do ano, e no que deste Governo
depender até à eternidade.
Sr.ª Presidente, a discussão na especialidade, que hoje terminamos, não serviu para melhorar a péssima
proposta que o Governo apresentou.
As promessas de melhoramento que os partidos da maioria anunciaram na sequência das suas jornadas
parlamentares, acabaram por ficar no tinteiro. O tão celebrado imposto sobre as PPP, anunciado pela maioria,
fez marcha-atrás por imposição do Governo, alegadamente para não prejudicar as brilhantes renegociações