27 DE NOVEMBRO DE 2013
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Ao mesmo tempo que nunca houve tantos milionários, que aumentam em número e em tamanho das suas
fortunas, o peso dos rendimentos do trabalho no Produto nacional igualou o ponto mais baixo das últimas
décadas — não por acaso, os anos em que o primeiro-ministro dava pelo nome de Cavaco Silva.
O peso dos salários na riqueza total do País já está abaixo dos 50%, cada vez mais longe dos 60% que
encontramos na maioria da Europa. Mais de metade do dinheiro gerado em Portugal são juros, lucros e renda;
curiosamente, ou nem por isso, são estes que menos são chamados pela direita a pagar a crise.
O Bloco de Esquerda bateu-se neste Orçamento pela decência de um País que trate dignamente quem
vive do seu trabalho e que taxe o capital e as fortunas. Sem novidade, vimos as propostas chumbadas. As
alternativas de equidade não interessam à maioria da direita. Todo o seu programa é uma brutal transferência
dos rendimentos do trabalho para o capital, que está resumida na política fiscal do Governo: aumentaram 30%
o IRS para descerem 10% o imposto pago pelo lucro das grandes empresas. Que chamem a isto «ética na
austeridade» é acrescentar o insulto à ofensa.
Aplausos do BE.
Sr.as
e Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, não contente em andar permanentemente em
contramão com a realidade, o Governo decidiu colocar mais uma mudança e seguir em força. No decorrer
deste debate orçamental, disse-nos o Secretário de Estado Hélder Rosalino que é «mais justo» cortar nos
salários de 675 € do que o fazer a partir dos 1500 €. Nem mais, nem menos, 675 € — são estes os novos
privilegiados!
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Cortar salário a quem recebe 675 €, um valor que mal paga a creche e a renda de casa, é taxar «quem
mais pode», como costumam dizer as bancadas do PSD e do CDS?
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Pior: não apenas perderam salário e viram a sua carga fiscal disparar, como os trabalhadores dos 675 € —
escolhidos pela direita para pagar uma crise que continua a isentar a banca — encontram cada vez menos
apoio social e serviços públicos.
Vamos falar da realidade:…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Já é tempo!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — … fixemos a nossa atenção numa família, com um filho e onde cada
adulto tem um rendimento mensal bruto de 700 €. Uma família de privilegiados, pelos critérios deste Governo.
Pagam sobretaxa de IRS, perderam o direito ao abono de família, assim como aos manuais e às refeições
escolares. Privilegiados que são, pagam tanto pelo passe do metro ou do autocarro para a criança como
pagam pelo dos adultos. São mais de 100 € em transporte, se viverem no centro da cidade, sempre mais de
150 €, se tiverem de se deslocar. Fica mais barato ir de carro, se o tiverem, claro, se não for a diesel e tiverem
de pagar mais uma taxa. Esta família, que tem pouco mais de 300 € líquidos por pessoa para chegar ao fim do
mês, se tiver o azar de trabalhar para o Estado, sabe que ainda vai ter de suportar uma redução no seu salário
pelo aparente crime de trabalhar num hospital, numa escola, nas forças de segurança, nos transportes, num
qualquer serviço público.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados, taxar e baixar os rendimentos do trabalho foi a
receita sempre repetida nestes três anos.
Num País onde já se trabalha mais 200 horas por ano do que a média europeia, CDS e PSD dizem-nos
que o problema é o horário de trabalho e aumentaram a semana de trabalho dos funcionários públicos. Não