I SÉRIE — NÚMERO 22
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A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Não vou fazer qualquer citação de
um estudo internacional, mas este estudo foi-nos entregue hoje e tive a felicidade de o abrir na página certa.
Sr. Ministro, na pág.24, diz-se que vai trazer sustentabilidade financeira ao sistema por duas vias: primeira,
redução do montante das pensões dos novos pensionistas; segunda, em conjugação com um mecanismo de
bonificação pelo prolongamento da idade da reforma, a fim de compensar o efeito redutor do fator
sustentabilidade.
Este é o seu programa para a sustentabilidade da segurança social: redução das pensões, aumento da
idade da reforma!
Sr. Ministro, este é um programa que não subscrevemos, e não porque queremos, como disse, enterrar a
cabeça na areia face ao sistema de segurança social. Não, senhor! O que temos é propostas diferentes e
convinha também que ouvisse as propostas do Bloco de Esquerda, uma vez que tanta vez apela a que
venham propostas do lado da oposição.
Pois muito bem: não enterramos a cabeça na areia e estamos de acordo consigo em que há menos
trabalhadores ativos, o que significam um desgaste para a segurança social. Há menos 500 000 pessoas a
contribuir para a segurança social nos últimos dois anos. E porquê? Porque os senhores destruíram 500 000
postos de trabalho!
Há mais de 1 milhão de desempregados que não contribuem para o sistema de segurança social. E porquê
Porque os senhores não têm capacidade nem apresentam propostas de combate ao desemprego!
E, mais, Sr. Ministro: há que adequar as fontes de financiamento da segurança social aos tempos de hoje,
e essa, sim, é uma proposta alternativa de sustentabilidade da segurança social.
Percebemos as questões da demografia, naturalmente. São factos! Existem! Ninguém aqui quer enterrar a
cabeça na areia, Sr. Ministro! O problema é de alternativas e a sua alternativa para a sustentabilidade da
segurança social vai em dois «carrinhos»: baixar o valor das pensões e aumentar a idade da reforma. Ou seja,
aquilo que é uma conquista civilizacional, a esperança média de vida ter aumentado, resulta numa penalização
das pessoas.
A vossa linha é sempre a mesma: se estão desempregados, culpa vossa, porque estão desempregados,
têm de ser penalizados; se vivem mais tempo, culpa vossa, têm que trabalhar mais tempo! Esta não é
seguramente a alternativa para as gerações do futuro.
É preciso um trabalho aturado sobre a sustentabilidade da segurança social, são precisas alternativas
diferentes nas fontes de financiamento, é preciso pôr mais gente a descontar para a segurança social. Não
destruam postos de trabalho, aumentem a população ativa, combatam o desemprego. Combatendo o
desemprego, naturalmente que a segurança social terá maior sustentabilidade. É isto que, neste país, os
senhores têm a obrigação de fazer! E não comparem o que não é comparável.
O Sr. Ministro vem aqui permanentemente comparar os dados da Europa. Estamos contra o aumento da
idade de reforma aqui e em qualquer sítio; se as pessoas vivem mais tempo têm direito a ter melhor qualidade
de vida. Trabalhar 40 ou 45 anos, descontar 40 ou 45 anos não é suficiente, Sr. Ministro?! Então, o senhor
acha que se se vive mais tempo é para trabalhar até morrer?! Mas que evolução é esta que nos vem aqui
propor?!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma nova intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Maria de
Belém Roseira.
A Sr.ª Maria de Belém Roseira (PS): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro Pedro Mota Soares, vi
no seu currículo que nasceu em maio de 1974 — e não veja nisto qualquer arrogância mas antes o sublinhar
da importância da intergeracionalidade.
Ainda o Sr. Ministro não tinha nascido e, em 1973, já eu trabalhava na Direção-Geral da Previdência —
antes do 25 de Abril. Conheci, portanto, a gestão tripartida do sistema previdencial. E a gestão tripartida
significa que os trabalhadores e as entidades patronais tinham número superior de votos relativamente ao
Estado. Porquê? Porque o Estado, em relação às contribuições para a segurança social, é um mero gestor de